domingo, 9 de outubro de 2005

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

A Inépcia é Pior que a Falsidade



A Inépcia é Pior que a Falsidade
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"Toda a gente pode falar com verdade; mas falar com ordem, com prudência e capazmente, poucos o podem. Por isso, a falsidade que vem da ignorância não me ofende; a inépcia, sim. Quebrei várias negociações que me eram úteis, por causa da estupidez que punham nas discussões aqueles com quem negociava. Nem uma vez por ano me irrito com as faltas dos meus subordinados; mas, no que respeita à idiotice e teimosia das suas alegações, às desculpas e defesas asininas e brutas, andamos todos os dias às turras. Não entendem nem o que se lhes diz nem a razão das coisas e respondem na mesma; é de desesperar.
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Só outra cabeça é capaz de impressionar fortemente a minha e acomodo-me melhor com os erros dos meus do que com a sua leviandade, impertinência e estupidez. Que façam menos, contanto que façam bem alguma coisa; vive-se na esperança de lhes excitar a vontade, mas de estúpidos não há que esperar nem que lucrar coisa que valha."
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Michel de Montaigne, in "Da Arte de Discutir"
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Aqui está um bom pensamento para partilhar, pleno de actualidade, e que nos faz pensar no nosso dia-a-dia e na inépcia com que alguns, por vezes, nos tentam espicaçar o espírito…

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Vai...


Em jeito de partilha:


Vai...

Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito.
Para alcançar a estrela inalcançável.

Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela.
Sem quereres saber quão longe ela se encontra;
nem de quanta esperança necessitarás;
nem se poderás ser maior do que o teu medo.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.

Para carregar sobre os ombros o peso do mundo.
Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se pode morrer, porque precisam lá de ti.
Pisarás terrenos que muitos valentes não se atreveriam a pisar.
Partirás para longe, talvez sem saíres do mesmo lugar.

Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra "amigo" o seu sabor a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também do teu corpo e - ou - muitos mais nascidos apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras dos homens.
Para descobrir os caminhos que há no ventre da noite.
Para vencer o medo.

Não medirás as tuas forças.
O anjo do bem te levará consigo, sem permitir que os teus pés se magoem nas pedras.
Ele, que vigia o sono das crianças e coloca nos seus olhos uma luz pura que apetece beijar, é também guerreiro forte.
Verás a tua mão tocar rochedos grandes e fazer brotar deles água verdadeira.
Olharás para tudo com espanto.
Saberás que, sendo tu nada, és capaz de uma flor no esterco e de um archote no escuro.

Para sofrer aquilo que não sabias ser capaz de sofrer.
Para viver daquilo que mata.
Para saber as cores que existem por dentro do silêncio.
Continuarás quando os teus braços estiverem fatigados.
Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza.
Tu saberás que um homem pode seguir em frente apesar de tudo o que dói, e que só assim é homem.

Para gritar, mesmo calado, os verdadeiros nomes de tudo.
Para tratar como lixo as bugigangas que outros acariciam.
Para mostrar que se pode viver de luar quando se vai por um caminho que é principalmente de cor e espuma.
Levantarás do chão cada pedra das ruínas em que transformaram tudo isto.
Uma força que não é tua nos teus braços.
Beijá-las-ás e voltarás a pô-las nos seus lugares.

Para ir mais além.
Para passar cantando perto daqueles que viveram poucos anos e já envelheceram.
Para puxar por um braço, com carinho, esses que passam a tarde sentados em frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento: "ainda não é suficiente".
Disposto a ir às portas do abismo salvar uma flor que resvalava.
Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada.
Disposto a ter contigo dores que são semente de alegrias talvez longe.

Para tocar o intocável.
Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar.
Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.


Paulo Geraldo, in http://cidadela.com.sapo.pt

sábado, 9 de julho de 2005

Abel Botelho - Um Assento de Baptismo

Abel Botelho
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Em busca de um Assento

Inúmeros biógrafos têm vindo a escrever que Abel Botelho nasceu na vila de Tabuaço em 23 de Setembro de 1855 ou de 1856. Finalmente, em finais da década de 1970, acabou por ser assumido pela maioria dos autores, bem como pelos que se têm seguido, que o famoso escritor, expoente do Naturalismo Português, tinha nascido no ano de 1855. Referimo-nos aos trabalhos de investigação de Justino Mendes de Almeida (Escorço bibliográfico e estudo linguístico, in Obras de Abel Botelho, vol. I, Lello & Irmão, Porto, 1979), de Monique Benoit-Dupuis (Contribution à la Bibliographie d'Abel Acácio de Almeida Botelho, in Sillages, n.º 5, págs. 49-78, Paris, 1977), e, posteriormente, de José Guilherme Macedo Fernandes (Abel Botelho: filho ilustre de Tabuaço, Lisboa, 1986), além de diversos artigos, do autor destas linhas, publicados em órgãos de imprensa regional no ano transacto.

Todavia, ao que parece, nenhum autor tinha cuidado de procurar uma fonte histórica e verídica, muito utilizada em Genealogia, que na época desempenhava a verdadeira função de registo oficial e que apenas seria destronada definitivamente em 1911 pelo actual Registo Civil: referimo-nos aos Registos de Assentos de Baptismo, e, neste caso, ao Assento de Baptismo de Abel Botelho, único documento autêntico e fonte primária que deveria ter sido desde logo utilizado para solucionar a questão.

Qual não foi o nosso espanto, após deslocação, há poucos dias, ao Arquivo Distrital de Viseu, com o fim de consultar os Livros de Baptismos, Casamentos e Óbitos do Arciprestado de Tabuaço, quando nos deparámos com o conteúdo do assento de baptismo de Abel Botelho que se refere, afinal, ao ano de 1854.

Considerando ser um dever proceder à sua divulgação, aqui fica a transcrição integral do documento, para que de uma vez por todas se dissipem as dúvidas acerca do ano de nascimento de Abel Acácio de Almeida Botelho:

“…
Abel, filho legitimo de Luiz Carlos d’Almeida Bo- / telho, natural de Viseu, Freguesia da Sé = e de / D. Maria Preciosa d’Azevedo Botelho, desta Fregue- / sia, nepto paterno de Christovão Antonio d’Almei-/ da e Costa da Freguesia de Monsanto, Bispado de / Castello Branco = e de D. Helena Joaquina / da Fonseca da Freguesia de Castello Bom, Bispado / de Pinhel = e materno de Bento d’Azevedo Leitão / desta Freguesia, e de D. Maria Bernarda da / Freguesia de Fonte arcada, deste Bispado, foi por / mim solemnemente baptizado no dia vinte um / de Novembro de mil oito centos cincoenta e qua- / tro, tendo nascido a vinte e tres de Septembro do / mesmo anno supra; foram Padrinhos seus / avós maternos = Bento d’Azevedo Leitão e / D. Maria Bernarda = e testemunhas o Rd.º P.e An- / tonio Vaz Pereira = e o Rd.º P.e Manoel Ribeiro da / Fonseca; e para constar fiz este assento que assignamos

O Abb.e Antonio Soares Martinho

P.e Ant.º Vaz Ferr. .............. P.e Manoel Rib.º da Fon.ca
...”
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Fonte: Livro de Baptismos da Freguesia de Tabuaço, concelho de Tabuaço,
Ano de 1854, Cx. 14, n.º 3, fl. 91 v.º.

Observações: As mudanças de linha vão assinaladas com o sinal /

quinta-feira, 23 de junho de 2005

João, o Baptista




João Baptista por Leonardo Da Vinci


Apesar de se tratar de um santo bastante enigmático, e de poder ter estado ligado à comunidade de Qumran, é tido como alguém que teve uma grande actividade profética. São Lucas diz-nos que "a palavra de Deus foi dirigida a João filho de Zacarias, no deserto", através daquilo que o próprio Santo denominou de comunicações celestes. João terá sido culto, carismático, com uma pregação cujo conteúdo ateia a esperança, razão pela qual "todo o povo" acorre a ele.

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Também é conhecido por, por volta dos seus 30 a 32 anos de idade, ter baptizado a Jesus, em quem reconheceu o Cristo, o Ungido, aquele que vem cumprir as promessas das Escrituras, sendo já nessa altura um Mestre com uma roda de inúmeros discípulos, transitando alguns deles, posteriormente, para Jesus Cristo, vindo a tornar-se importantes apóstolos.

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Porém, as suas críticas aos amores ilícitos de Herodes Antipas levaram-no à prisão e posteriormente ao martírio, por decapitação, em Maqueronte.

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Muito mais se poderia escrever sobre um Santo cuja tradição inspira muitos portugueses e é motivo de grandes celebrações anuais por todo o país durante estes dias de Junho. No entanto, mais vale ganhar a esperança que desde sempre nos ensinou a procurar, celebrando com todos, em casa e na rua, a alegria da existência.

terça-feira, 14 de junho de 2005

Eugénio de Andrade

Foto: in Público, 18/3/90

" É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
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É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
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É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
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Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer. "
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Eugénio de Andrade (1923 - 2005)

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Os Realistas e os Românticos

Os Realistas e os Românticos
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"Os realistas fazem as pequenas coisas e os românticos as grandes. Um homem tem de ser realista para poder gerir uma fábrica de tachas. Tem de ser romântico para gerir o mundo.
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É necessário um realista para encontrar a realidade; o romântico é necessário para criá-la. Napoleão é apenas um poeta, Cromwell um entusiasta, César um retórico. A distância entre Henry Ford e John Milton é sempre maior no comboio de regresso.
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A realização é a morte, porque é o fim. Os romãnticos são sobrevivências, encarnações perpétuas de si próprios."
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Fernando Pessoa, in 'Heróstato'

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Em conversa com Deus



Água, de autor anónimo


Fui desafiado pela minha querida amiga Ana para que respondesse a um pequeno inquérito e o publicasse, aqui no Ars Lusa.

O referido inquérito/desafio, tal como ela refere, advém de um blog que visitou, o
confessionário de um padre, onde o descobriu e repescou para divulgação.

Tal como ela o referiu, também aqui está aberto o campo para vocês, se quiserem, responderem ao mesmo, do vosso jeito, de acordo com o vosso sentir, enquanto comentário.


As questões estão redigidas tal como a Ana as entendeu trajar, sendo as respostas as que me ocorreram tendo em conta as circunstâncias actuais que conformam e moldam a Humanidade:


Imagina que Deus marcou um encontro contigo num determinado restaurante perto da tua casa. Imagina-te sentado/a ao Seu lado, a dialogar com Ele. E agora pergunto eu [sic]:

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1 - Qual era a ementa que Lhe sugerias e porquê?
Talvez Lhe sugerisse que começássemos por beber um pouco da água que representa a nossa Fons Vitae, sem a qual nada somos, com o ensejo de lhe demonstrar que é necessário que inspire a humanidade a não polui-la, pois precisará dela sempre… Depois, talvez procurasse uma ementa composta por pequenos pratos representativos de todas as diferentes culturas a nível mundial, que não podem ser esquecidas sob pena de sermos sempre parcelares na apreciação do génio humano e de todos os povos.


2 - Que motivo teria Deus para querer almoçar contigo?
Não sei. Mas sentir-me-ia honrado e tentaria ser digno da Sua companhia, tentando aprender o máximo, amadurecer mais um pouco, e demonstrar, também, porque razão é que somos todos considerados Seus filhos, fruto de Criação Divina.


3 - Fazia-te perguntas acerca da Igreja. Que Lhe contavas?
Dir-lhe-ia que as Igrejas necessitam de um salvo conduto Seu para se poderem afastar do caminho menos próprio que escolheram e que é fonte de todos os males e desinteligências que criaram ao longo dos séculos, na ânsia de protagonismo, criando excesso de dogmatismo em vez da procura da verdade e da humildade em querer percorrer um caminho de desenvolvimento espiritual. Dir-lhe-ia, também, que existem muitas pessoas com empenhada fé interior que gostariam de poder transmiti-la aos que as rodeiam, mas que por falta de unidade de credos, se sentem molestadas psicologicamente devido a excesso de interpretações religiosas, e que, enfim, através do Ecumenismo, talvez se conseguisse chegar à Verdade…


4 - Dava-te a possibilidade de te concretizar um desejo. Que pedias?
Pedir-lhe-ia que, pelo menos por um dia, toda a humanidade parasse para reflectir acerca do seu passado (de tudo o que tinha percorrido e de todo o bem e mal que fez a si e ao meio envolvente), do seu presente e dos seus anseios para o futuro.


5 - No final da refeição, pedia-te uma recordação. Que lhe oferecias?
Um abraço Paternal, se tal me fosse permitido, para poder sentir a sua energia conciliadora, em abandono de criança nos braços de Alguém protector, e tentar compreender um pouco da essência que nos une e diferencia enquanto ser Divino e ser corpóreo.


6 - Por fim, oferecias-Lhe um café com ou sem açúcar? Porquê?
Com açúcar, para que sentisse o mesmo que eu sinto quando bebo um café, em jeito de partilha de emoções.

7 - Quem pagava a conta?
Pagaria eu em sinal de agradecimento pela Sua e minha existência.


8 - Quem vais sugerir (3 pessoas) para almoçar com Ele? E porquê?
Não sugiro ninguém em especial, pois todos são bem vindos nesta «casa». No entanto, agradeço, desde já, a quem entender publicar o inquérito no respectivo blog, que deixe aqui a referência a tal facto como comentário, para poder ser partilhado por todos os visitantes.

domingo, 29 de maio de 2005

Pintura... a mais contraditória das artes

Maria Helena Vieira da Silva, O Desastre, óleo sobre tela, 1942

"A pintura é a mais contraditória entre as artes. Ela é-nos dada sob a forma de contemplação sensorial. Uma vez que a percepção penetra directamente no consciente, os quadros criam uma impressão de imediatez. Temos uma sensação como se nenhuma linguagem simbólica se interpusesse entre nós e aquilo que vemos".
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Dietrich Schwanitz

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Longa - Um refúgio com muitas histórias...


Longa

Uma terra antiga plena de história e envolta pela natureza


Longa - Vista aérea
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A freguesia de Longa, uma das dezassete que compõem o concelho de Tabuaço, no distrito de Viseu, encontra-se situada a meio de uma encosta, onde se terá desenvolvido desde a Alta Idade Média, tendo feito parte do Couto de Leomil nos alvores da nacionalidade.

No entanto, é mais fácil identificar a sua vetustez através dos inúmeros sítios arqueológicos existentes, que remontam a períodos mais recuados, do que através da documentação que chegou aos nossos dias referente ao período medieval.

O próprio topónimo de Longa, segundo Almeida Fernandes, remete-nos para a arqueologia, tendo aquele autor chegado a supô-lo como topónimo de origem latina, que se poderia referir a sepultura e relacionar possivelmente com a edificação primitus da igreja ou, apesar do singular do étimo, com uma necrópole composta por prováveis sepulturas rupestres, há muito desaparecidas.

Certo é que o povoamento da área correspondente à freguesia de Longa é antiquíssimo, existindo inúmeros sítios arqueológicos que provam a sua ancianidade, desde o Povoado do Graíl, recentemente descoberto e datado do período do Calcolítico, ou a Anta situada junto ao Cruzeiro do Alto da Quinta, passando pela bem conhecida Citânia de Longa (também denominada de Castelo de Longa ou Castelo dos Mouros no séc. XVIII), classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1992, situada no cume do monte do Muro e que datará da Idade do Bronze, e pelo Povoado da Encosta do Muro, ao que parece, do período do Bronze Final e Idade do Ferro, entre muitos outros sítios, como o Menir da Chã, recentemente descoberto e a aguardar estudo e classificação (a provar-se ser um menir, será o 2.º maior de Portugal e da Península Ibérica e o maior do Norte de Portugal).

Citânia de Longa

A fundação da Igreja de São Pelágio de Longa poderá ter ocorrido no séc. X, em homenagem ao menino mártir S. Pelágio (martirizado em Córdova). Porém, pelo facto de se encontrar em terras do Ermamento, deverá ter sofrido todas as vicissitudes das guerras entre Cristãos e Mouros até que, finalmente, em finais do séc. XI teve a sua situação estabilizada e, provavelmente, restabelecida a sua paróquia.

Do ano de 1268 chegou-nos a alusão à apresentação in solidum na vigararia de Longa do Pe. Lourenço Martins pelos Cónegos do Cabido da Sé Lamecense, monges de São Pedro das Águias, herdeiros e padroeiros, tendo aquele sido posteriormente instituído e confirmado pelo bispo de Lamego D. Pedro Anes.

Capela de Santo Isidoro

Já com o arrolamento paroquial do reino, de 1321, no reinado de D. Dinis, a paróquia de São Paio de Longa terá sido taxada em 30 libras.

Segundo alguns autores, Longa terá tido foral outorgado em 15 de Fevereiro de 1514 por D. Manuel I, o que poderia ser, em princípio, corroborado pela própria grafia do registo oficial, apesar de nesse documento, nas partes referentes à Pena d’Arma, e outros itens, se remeter para o extensíssimo Foral de Lousã em detrimento do Foral de Lamego. No entanto, tal foral referir-se-á, verdadeiramente, à vila de Loriga, actualmente no concelho de Seia.

Solar dos Ferreira Cardoso

No Censual da Sé de Lamego, da 1.ª metade do séc. XVI, Longa aparece referida como Abadia, sendo o seu abade da apresentação do Cabido da Sé de Lamego em alternativa com os monges do Mosteiro de São Pedro das Águias, seguida de confirmação do Senhor Bispo. Mais se refere que a Visitação era paga através do antigo costume do Jantar.

Em 1527, o Cadastro do Reino alude ao concelho de Longa, então constituído por 50 fogos habitacionais.

Posteriormente, no ano de 1708, o Pe. Carvalho da Costa, na sua Corografia Portugueza, escreveu que a vila de Longa, pertencente à Coroa, era então composta por 90 fogos habitacionais, sendo o seu governo civil, judicial e militar exercido por um Juiz Ordinário, dois Vereadores e um Procurador do Concelho, que compunham o seu Senado, existindo, ainda, um Escrivão da Câmara, um Meirinho e uma Companhia de Ordenança (com respectivo Capitão). Mais referiu que a igreja paroquial, com a invocação de São Pelágio, possuía a categoria de Abadia de colação ordinária, apresentada alternativamente pelo Cabido da Sé de Lamego e pelos Frades Bernardos [de São Pedro das Águias].



Igreja Matriz de Longa

Devido às querelas em torno do seu padroado, por força da alternativa da sua apresentação, desde o séc. XV e até meados do Séc. XVIII, muitos processos judiciais terão tido lugar entre o Cabido da Sé de Lamego e os religiosos do Mosteiro de São Pedro das Águias da Ordem de Cister, apenas estabilizando nas décadas de 1740/1750, a favor dos Cónegos de Lamego.

Alguns desses dados foram corroborados pelo Abade de Longa, Pe. Manuel da Guerra Torres, nas respectivas Memórias Paroquiais de 1758, tendo aquele referido, a título de curiosidade, o Castelo de Longa, numa época em que a sociedade começava a despertar para a arqueologia e história das nações.

Casa do Abade

O concelho de Longa foi extinto em 6 de Novembro de 1836, passando a freguesia para o concelho de S. Cosmado, extinto por sua vez a 24 de Outubro de 1855, data em que foi anexada ao concelho de Tabuaço.

Tal como as restantes freguesias do concelho de Tabuaço, Longa possui uma grande riqueza ambiental, paisagística, histórica e cultural para gáudio dos seus visitantes.

Troço de calçada romana
No que concerne à arqueologia e como não poderia deixar de ser, há a referir a Citânia de Longa, o Povoado Calcolítico do Grail, o Povoado da Encosta do Muro e a Mesinha do Redoiro, os vestígios de estruturas alti-medievas do Monte Rei, os diversos troços de vias romanas/medievais que ligam a povoação à Citânia, à Granja do Tedo, a Arcos e a Nagosa, um Lagar medieval no Talefre, a Anta (ou Dólmen) do Alto da Quinta, diversas fossetes nos lugares da Lapinha e de Santo Isidoro, algumas Sistas no lugar do Castelo, um fragmento de sarcófago medieval que terá sido aproveitado na edificação de uma casa no Largo do Eirô, e o Menir da Chã, recentemente descoberto.

Menir da Chã

Relembrando o antigo concelho é possível referir o Pelourinho de Longa, reconstruído recentemente, no Largo da Praça, para se juntar à primitiva Cadeia e à antiga Casa da Câmara, bem como ao antigo Tribunal e Cadeia nova de Longa, sito no Largo do Eirô, cujo edifício desempenha actualmente a função de sede da Junta de Freguesia.

Interior da Igreja Matriz

Relativamente ao património religioso o destaque vai para a Igreja Matriz de Longa, templo de origem medieval cuja decoração e arquitectura actual nos remete para os estilos Maneirista, Barroco Joanino e Neoclássico. No seu interior, demonstrativo do excelente efeito cenográfico provocado pela conjugação de elementos maneiristas, barrocos e rocailles, que tornam este templo significativamente importante como exemplo de estudo da evolução do barroco regional, destacam-se as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido com 109 caixotões pintados com motivos hagiológicos e cenas da vida da Virgem e de Cristo, complementados por um precioso conjunto de talha joanina dourada e policroma, composto pelo altar-mor, pelos altares colaterais e laterais e pela talha que cobre o arco cruzeiro.

Senhora da Saúde

Existe ainda um Santuário dedicado a Nossa Senhora da Saúde, cuja capela foi inaugurada em 1930, a Capelinha da Senhora da Guia, um pouco mais antiga mas reconstruída na mesma época, não longe do lugar original, a Capela de São Miguel, da 2.ª metade do séc. XVIII, a Capela de Santo Isidoro, do séc. XVII, a Capela de São Sebastião, dos sécs. XVIII e XIX, e a Capela de Santo António, com elementos de finais do séc. XVI, além do Calvário, já sem a sua cruz, e o Cruzeiro do Alto da Quinta.

Cruzeiro do Alto da Quinta

Capela de São Miguel

No que concerne à arquitectura civil residencial será de referir, entre outros inúmeros imóveis construídos ao longo dos séculos, a Casa do Abade, com janela manuelina, o Solar dos Ferreira Cardoso, seiscentista e setecentista, ou a romântica Casa dos Leões e o Palacete da Rua de São Miguel, ambos do séc. XIX.

Pelourinho de Longa

A arquitectura civil de equipamento aparece representada através das Fontes da Rigueira, do Cimo de Vila, das Alminhas e do Fontanário da Praça, que ostenta a seu lado uma lápide com uma quadra em latim datada de 1835. Como marco comemorativo é possível referir o Cruzeiro dos Centenários de Longa, novecentista.

Longa, uma terra antiga com um passado histórico interessante onde o visitante se poderá demorar por muitas horas, calcorreando caminhos antigos, descobrindo cascatas e ribeiros, penedos esculpidos pelo vento e pela água, podendo observar uma águia a sobrevoar um monte, um javali ou uma raposa vindos de nenhures, bem como outros inúmeros pormenores notáveis da natureza envoltos pela ancienidade de um povo bem português.

domingo, 22 de maio de 2005

Poesia

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Sentir um olhar
Evitar o nosso olhar
Tens aí: a certeza de um sentimento maior.
Sentimento maior que misteriosamente tem medo...
Medo da sua grandeza.
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Maria do Céu Costa, in Sentimentos no Silêncio
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Mas, afinal de contas, o que é a poesia? Será o retrato fiel do nosso amor, dos nossos sentimentos? Ou será, antes, uma simples viagem, uma viagem ao ponto de fuga, parafraseando Fernando Campos?
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* Mais sobre a autora:

terça-feira, 17 de maio de 2005

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Aida Baptista - Passaporte Inconformado


Passaporte Inconformado de Aida Baptista *

Uma Escritora nascida em Pinheiros - Tabuaço

Maria Aida Costa Baptista nasceu em 1948 na freguesia de Pinheiros, concelho de Tabuaço, distrito de Viseu. Com a provecta idade de um ano foi com seus pais para Angola, onde viveu na cidade de Benguela, até aos 26 anos de idade. Aí estudou, casou, teve dois filhos e iniciou a sua actividade docente.

Com o 25 de Abril regressou com a família a Portugal, onde fez a Licenciatura em História e uma Pós-graduação em Estudos Europeus na Universidade de Coimbra. O Mestrado em Literatura e Cultura Portuguesas seria feito posteriormente na Universidade Nova de Lisboa.

Sendo já professora efectiva do 1.º Grupo da Escola EB 2,3/S do Sardoal, candidatou-se em 1989 a Leitora de Português no estrangeiro, acabando por ser colocada na Universidade de Helsínquia, Finlândia, onde cumpriu uma missão de 8 anos.

Em 1998 foi nomeada pelo Instituto Camões para uma segunda missão na Universidade de Toronto, Canadá.

Em 2003, depois de terminada a missão no continente americano, decide reunir em livro algumas das suas experiências pessoais e profissionais, tendo resultado esta sua primeira publicação, Passaporte Inconformado, cuja 1.ª edição foi publicada em Junho de 2004 pelas Edições MinervaCoimbra, com o patrocínio da Sanofi-synthelabo e o apoio da Câmara Municipal do Sardoal, da Direcção Regional das Comunidades – Presidência do Governo dos Açores, do BCP Bank e da CIRV – Rádio Internacional – Toronto.

Passaporte inconformado trata-se de um conjunto de cinquenta crónicas aleatoriamente escolhidas pela autora de entre muitas das publicadas em diversos órgãos de imprensa com os quais tem vindo a colaborar. Nas palavras da autora, através desta obra, e apesar de, por vezes, partir de referências autobiográficas, apenas pretende dar voz a todos aqueles que passaram pelas vivências ligadas ao "abandono do espaço-berço", a Emigração.

Trata-se, pois, de uma aventura que tanto pode ser descrita em histórias de sucesso, como remeter o leitor para o esquecimento relativamente àqueles que se "envergonham de não ter conseguido subir os degraus que conduzem ao miradouro do êxito".

Ainda de acordo com as suas palavras, resta-lhe “a certeza de que, tanto num caso como no outro, todos se sentem unidos pelo mesmo documento, um passaporte inconformado, feito de tantas páginas quantas as entradas e saídas carimbadas pelo lacre que escorre do tempo”.

Aqui fica a referência a mais um nome promissor do panorama literário nacional, Aida Baptista, natural de Pinheiros – Tabuaço, cujo fulgor vai pululando e dando a conhecer, com qualidade, humildade e forte sentido a sua/nossa Portugalidade, numa obra entretecida por vivências profissionais e pessoais da autora e que nos levam à meditação acerca do percurso de vida de cada português, tanto aqui como acolá, na aventura da diáspora.


Gustavo Monteiro de Almeida
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* O presente artigo será publicado na próxima edição, de 15 de Maio de 2005, do quinzenário Correio de Tabuaço.

** Mais informações sobre a autora em: http://manuelcarvalho.8m.com/aidaentrev.html


terça-feira, 10 de maio de 2005

O poder do poeta


O poder do poeta
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Dêem um mundo perdido
A um poeta que sobre ele possa mandar
E de um dia para o outro, o mundo esquecido
Será jardim, lago de calma, de encantar
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O poeta cobrirá de versos a miséria
E as quadras virarão o sofrimento
O ruim do mundo deixará de ser matéria
Para se transformar em fumo num momento
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Os pobres tomarão conta das ruas
Enjeitados serão ídolos nos comícios
Oprimidas mulheres dançarão nuas
Lei geral legalizará todos os vícios
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Nunca mais haverá essa diferença
Que amarra o mundo à tradição
Cada qual será como é, e a sentença
Não mais fará no homem, submissão
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Se o poeta puder ser mandatário
O mundo abrir-se-á de tanta cor
Ninguém mais se sentirá um solitário
E toda a emoção será de amor
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O poeta tem o poder do paraíso
Poder que tem contudo um senão
Talvez implante no mundo algum juízo
Mas nunca chegará a alguma conclusão
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Francisco Gouveia, in Trás-os-Montes Trá-los cá... *
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* Sobre o Autor:

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Bom humor


"O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior"

Alfred Armand Montapert

sábado, 7 de maio de 2005

Impossível?


"Se tens dificuldade em cumprir um intento, não penses logo que seja impossível para o homem; pensa quanto é possível e natural para ele, e que também pode ser alcançado por ti"

Marco Aurélio

terça-feira, 3 de maio de 2005

Em catadupa...


Pois é...

Em catadupa
Vivemos acontecimentos,
Fervilhamos de ideias
Até à exaustão,
Quase extenuados com tudo
E todos...

Durante o dia…
Lembramo-nos de que é preciso fazer isto, pensar aquilo,
E, também, não esquecer daquilo...

Oh Deus!
E, ainda, telefonar a fulano,
Beltrano e sicrano...

Já agora, estar com o amigo w,
Reconfortar a amiga x,
felicitar a amiga y,
E, claro, não esquecer o familiar z.

Por fim, como uma formiga,
Recolher ao lar, depois do dever cumprido.
Ouvir música, tomar um repasto,
Sair para beber um café e ler um trecho…

Depois…
Ora, depois, como não poderia deixar de ser,
Escrever..., sim! Escrever, pois esta alma necessita de criar,
Ouvindo um pouco de música em jeito de tango,
Pois combina bem com a scripta.

Muito depois (ou pouco, conforme os dias),
Lançar-me para de debaixo dos lençóis,
Afagar a gata que se aninha aos pés,
Sentir-lhe o inefável ronronar de saudade.
Ler mais uma passagem como enleio,
Para os voos que se aproximam...

Fechar os olhos,
Relembrar momentos de carinho,
Tentando esquecer a raiva que, por vezes,
Outros nos tentam incutir,
E que durante o dia nos levam quase ao desespero.

Suavemente embriagar de sono,
Lentamente, lentamente… embalado até adormecer,
E entrar em sonhos saudosos do passado, do presente,
E do futuro…

domingo, 1 de maio de 2005

Mater


Maternidade, Gustav Klimt
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Por ti aqui estou, pleno de vida, tentando ultrapassar-me todos os dias, em reinvenção de sonhos e de angústias, encontros e desencontros.
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Nunca te esquecerei, nem nunca esquecerei as palavras de conforto que sempre me deste, as lições de vida que sempre tentaste imprimir na minha alma, os momentos dolorosos que me ensinaste a viver.
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A saudade é sempre muita, mas, basta-me relembrar o teu rosto e a tua voz, o teu sorriso, para me sentir melhor e continuar a lutar e a sonhar.
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Teu filho, sangue do teu sangue, humilde representante da tua linhagem, sempre...

sábado, 30 de abril de 2005

Ir mais longe...


"Um parvo em pé vai mais longe que um intelectual sentado. Ou um político."

António Lobo Antunes
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segunda-feira, 25 de abril de 2005

A palavra Revolução




A PALAVRA REVOLUÇÃO

Com nove letras se escreve
Com nove letras se diz
A ideia Revolução
Que o povo do meu país
Gravou já no coração.
Esta palavra de amor
Só a soletra e percebe
Só a defende quem for
Solidário em qualquer parte
Cidadão a tempo inteiro
Com vontade engenho e arte
E coração prazenteiro.
Quem a escreve sem erre
E lhe chama evolução
Não passa de almocreve
Da contra – revolução.
Já o Caetano flanava
A bandeira evolução
Mas só na continuidade.
A essa o povo diz: Não!
Para evoluir é preciso
Saltar muros ir em frente
Em busca do paraíso
Na terra para toda a gente.

Sem erre a evolução
Não nos traz nada de novo.
Cravo Abril Revolução!
É este o grito do Povo.
Evolução? Com certeza!
Para pôr o país no são
Só cravos à portuguesa:
Flor de Abril Revolução!
Semente fermento e pão
De um povo que se quer livre
Do jugo da opressão
Pois que só livre se vive.
Escrita no pensamento
Na mente no coração
Nada apaga nem o tempo
A ideia Revolução.
Povo e Alegria aos molhos
Sorrisos Cravos aos mil
Razão de ser Luz dos olhos
Revolução Mês de Abril
Liberdade Amor Paixão
Abraços Democracia
Paz e pão Revolução
É esta a Hora Este o Dia!


André Moa
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* Mais sobre o autor:

sexta-feira, 22 de abril de 2005

A arte de viver

A arte de viver, Magritte
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"Calarei os maldizentes continuando a viver bem; eis o melhor uso que podemos fazer da maledicência"

Platão
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A maledicência e a inveja são muitas vezes apontadas como obstáculos ao correcto desenvolvimento de qualquer sociedade e das suas vivências.
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Existindo desde os primórdios da humanidade, nelas se revêem aqueles que se podem apontar como pequeninos de espírito, restando aos outros tentar não ligar, pura e simplesmente, ao fruto da inveja e da maledicência. É verdade... por vezes é muito difícil!!
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No entanto, muito provavelmente, o ensinamento de Platão será a melhor forma de fazer mitigar a ditadura da pequenez que, infelizmente, ainda reina por aí, fazendo-nos (re)descobrir e (re)criar a arte de viver...

terça-feira, 19 de abril de 2005

Habemus Papam


"Nuntio vobis gaudium magnum, habemus Papam"


Pouco depois das 16h50 (hora de Lisboa), o fumo branco que saiu da chaminé da capela Sistina revelou ter sido tomada uma decisão, provocando alegria entre os muitos fiéis presentes na Praça de São Pedro, no Vaticano.
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A decisão surgiu depois de quatro votações realizadas pelos cardeais - uma ontem à tarde e outras três efectuadas hoje, duas de manhã e mais uma esta tarde.
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Passados alguns minutos, o cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez aparecereu à janela da Basílica de São Pedro para anunciar o nome do sucessor de João Paulo II, dizendo"Nuntio vobis gaudium magnum, habemus Papam" (Anuncio-vos uma grande alegria, temos Papa).
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A escolha recaiu sobre o Cardeal Joseph Ratzinger,
que tomou o nome de Bento XVI.
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Considerado por muitos conservador, talvez devido aos lugares que ocupou, ao longo dos próximos tempos iremos ver se consegue abrir tantas ou mais portas do que o seu predecessor... ou se cumpre a profecia de São Malaquias, revelando-se como a "Gloria Olivae" (Glória da Oliveira), segundo alguns.

domingo, 17 de abril de 2005

Verdades pintadas


"Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema"

Pablo Picasso
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Verdades e interpretações.
Pedras de toque da nossa imaginação e do nosso ideário comum.
Criar, reinterpretar é pensar, desdogmatizando coisas que não são absolutas
mas sim capazes de evolução, da nossa própria evolução...

sábado, 16 de abril de 2005

Infortúnios


"Se todos os nossos infortúnios fossem colocados juntos e, posteriormente, repartidos em partes iguais por cada um de nós, ficaríamos muito felizes se pudéssemos ter apenas, de novo, só os nossos"

Sócrates
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Aqui está uma grande verdade, capaz de fazer calar muitos daqueles que levam o seu dia-a-dia sempre a queixarem-se da vida...
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Ainda temos muito para (re)aprender com os antigos Mestres...

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Da leitura à escrita


"A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exactidão"

Francis Bacon
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Ao ler esta frase de Bacon, perguntei-me qual desses meios seria o mais importante.
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Será a escrita por, através dela, se partilhar de forma mais perene o conhecimento?
Se assim o é, por certo caminhará a par com a leitura.
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Ou será o discurso devido à rapidez, espontaneidade e riqueza do mesmo, apesar se esgotar num momento?
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Serão todos?
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Ou nenhum?

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Tesouro dos remédios da Alma




"No Egipto, as bibliotecas eram chamadas «Tesouro dos remédios da alma». De facto é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras"
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Jacques Bénigne Bossuet

terça-feira, 12 de abril de 2005

O valor da palavra

Electronic painting, Sabine Corneliu Buraga, 2002


«Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão»
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Madre Teresa de Calcutá

domingo, 10 de abril de 2005

Uma Palavra que seja...

Shanny, Jack Spencer, 2003
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"Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala"

Jean Baptiste Poquelin Molière
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Sempre ouvi dizer que a palavra vivifica...
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Quer sejamos tolos, quer não, devemos sempre falar, escrever, soltar o que nos vai na alma,
sem receio de sermos censurados, glosando, recriando e criando a nossa existência e a dos outros…

sábado, 9 de abril de 2005

Questão premente




O século XXI será religioso ou não será?
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André Malraux
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Eis uma questão premente que mexe com todos, e que tem atormentado o espírito de filósofos, teólogos, sociólogos, políticos e de muitos cidadãos anónimos.
Que dizer deste novo século e dos seus desafios?

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Passo a passo...


Por esse caminho fora vou palmilhando a vida, passo a passo.

Por vezes encontro grandes lombas, cansativas, entediantes, ou então muitas curvas difíceis, algumas delas ladeadas por precipícios bem fundos.

Outras vezes, entro em rectas bastante fluidas onde não há receio de me perder e onde se avista o horizonte, luminoso, inebriante.

Assim são os percursos de vida… O meu, o teu...

Dir-me-ão que também pode ser muito mais, e é verdade, pode ser aquilo que quisermos.

Uma coisa é certa, nunca o percorremos sozinhos… nunca estamos sós, mesmo que, de quando em vez, nos possamos sentir como nómadas.

Após esta pausa… resta-me referir que está na hora de retomar a estrada…

Onde vamos hoje?

terça-feira, 5 de abril de 2005

Obrigado


...................................Thank you!

.................................................................................................谢谢你

.........................................................
Obrigado!

............
Merci!

................................................................................................Danke schön!

..........................................¡Gracias

...........................................................................................
Dank u!

......................Grazie!
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É curioso como, por vezes, as pessoas se esquecem de agradecer aos outros por pequenos ou grandes gestos, actos ou factos.
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No entanto, ontem, por exemplo, fui confrontando com um episódio que me marcou positivamente: Ao entrar num autocarro, vejo um miúdo, talvez com seis ou sete anos de idade, a querer levantar-se de um banco para sair do transporte. Dei-lhe passagem, e o miúdo olhou para mim, agradeceu e saiu. Logo após, e perante a admiração geral, um senhor de idade, todo sorridente e extasiado, exclamou: É admirável, com aquela idade e a agradecer a cedência de passagem.
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Sim, de facto foi admirável. Foi exultante ver que, de entre os nossos jovens, a educação, a gentileza e a civilidade ainda estão presentes e nos permitem pensar que, no futuro, estaremos em boas mãos. Que aquele exemplo sirva de inspiração a nós próprios, adultos, para que no dia-a-dia não nos esqueçamos de agradecer sempre todos os gestos, grandes ou pequenos, que alguém tenha para connosco.
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Obrigado por nos teres feito sorrir!

segunda-feira, 4 de abril de 2005

João XXI – Um Papa português

Pedro Hispano Portugalense

Pedro Hispano Portugalense era o nome literário do filósofo português Pedro Julião, nascido em Lisboa entre 1205 e 1210 e falecido em Viterbo em 20 de Maio de 1277.

Estudou ciências humanas em Paris, onde, depois, terá sido professor. Estudou, também, medicina em Salerno ou na Sicília. Foi professor de Medicina em Siena, pelo menos entre 1245 e 1250, tendo neste último ano voltado a Portugal onde desempenhou os cargos de deão da Sé de Lisboa, de arcediago de Braga e de prior da Colegiada de Santa Maria de Guimarães. Tendo sido eleito arcebispo de Braga, não recebeu confirmação dado ter sido escolhido, em 1272, para médico do papa Gregório X, que o fez cardeal-arcebispo de Túsculo no ano seguinte.

Eleito papa em 20 de Setembro de 1276, tomou o nome de João XXI. No seu novo percurso empenhou-se na união a Roma dos cristãos do Oriente e na defesa dos lugares santos da Palestina. No que concerne a Portugal interveio de forma pacificadora nos conflitos surgidos entre D. Afonso III de Portugal e a Santa Sé. Também interveio no conflito entre Afonso de Castela e Filipe de França. Faleceu numa derrocada, enquanto inspeccionava o palácio papal de Viterbo.

Como filósofo e médico foi notável. O seu compêndio de lógica Summulae Logicales tornou-se o livro de texto de quase todas as faculdades de filosofia durante quatro séculos, e, como curiosidade, refira-se que entre 1474 a 1639 foi editado mais de 260 vezes, tendo sido traduzido para as línguas hebraica e grega. É-lhe atribuída a autoria do Thesaurus Pauperum, em que elenca os tratamentos recomendados para doenças de diversas partes do corpo humano. Escreveu muitas outras obras filosóficas e médicas, tendo sido considerado o homem mais douto do seu tempo.

sábado, 2 de abril de 2005

João Paulo II

Foto: Juan Pabloi
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Karol Józef Wojtyla
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(n. 18 de Maio de 1920, Wadowice, Polónia - f. 2 de Abril de 2005, Vaticano, Itália)
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Resquiescat in Pace

Mensageiro da Paz

No dia em que o pensamento de grande parte da humanidade, cristã ou não, está posto na Praça de São Pedro, em Roma, poucos são aqueles que ousam não aceitar João Paulo II como aquele que voltou a aproximar o Vaticano, a Igreja Católica, do homem.
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Conservador progressista, ao longo de mais de 26 anos soube como ninguém, manter os cânones e a tradição, aliando a essa visão as ideias de ecumenismo, de paz, de bem-estar social.
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Rezamos pela saúde, cada vez mais debilitada, e pela serenidade dos últimos momentos deste grande Papa, Homem do mundo, mensageiro da Paz.

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Fragas de amor

Foto: Memento

Fragas e penedias da Beira Alta que sustentam os meus pés
Foste formadas do divino casamento da água com o ar.
Afeiçoadas, desbastadas ficaste, prontas para leito de paixões
Sussurrando estórias de amor, desejos e ansiando por amar.

quinta-feira, 31 de março de 2005

O Triunfo do Inverno


O Triunfo do Inverno

«...La sierra de Sintra viene
Que estaba triste del frio,

Gozar del triunfo mio,
Que á su gracia conviene.
Es la sierra mas hermosa
Que yo siento en esta vida:
Es como dama polida,
Bravá, dulce y graciosa,
Namorada y engrandecida.

Bosque de cosas reales,
Marinera y pescadora,
Montera y gran cazadora,
Reina de los animales.
Muy esquiva y alterosa,
Balisa de navegantes,
Sierra que á sus caminantes
No cansa ninguna cosa.

Refrigerio en los calores,
De saludades minero,
Contemplacion de amores,
La senora á que yo mas quiero,
Y con quien ando damores.

[…]

Hum filho de hum Rei passado
Dos gentios Portugueses
Tenho eu muito guardado,
Ha mil annos e tres meses
Per hum magico encantado.
E este tem hum jardim
Do paraiso terreal,
Que Salomão mandou aqui
A hum Rei de Portugal;
E tem-no seu filho ali.

Este será bom presente,
E eu irei por elle asinha,
Porque he pera a Rainha
Justo e conveniente.
O qual Principe virá
Em pessoa aqui com elle,
Que sabe as virtudes delle,
E como e quem o trouxe ca,
E quando se monta nelle.

E virá acompanhado
Dessas cachopas sintrans,
E de mancebos do gado,
Louçãos e ellas lonçans,
Com seu cantar costumado...»
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Gil Vicente, O Triunfo do Inverno, teatro, 1529
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Provavelmente poucos conhecerão este texto daquele que é considerado o pai do teatro português. Trata-se de um excerto bastante apetecível, aliás, para quem, como eu, adore o Glorious Eden que é Sintra, e que aqui fica vertido em homenagem ao seu autor e àquele paraíso terrestre.

quarta-feira, 30 de março de 2005

Contracurvo

Foto: Caroline Borba

Contracurvo... sigo o teu perfil, dedilho as tuas cordas e retiro sonoridades de ti, sim...

Logo após, vou sendo tocado por ti, numa contradança volátil, gnose etérea e férrea, pungente...

Já não sei onde estou, onde estamos ou o que fazemos, de tão perdidos que ficamos, perto de ti, longe de mim.

Apenas sinto as tuas curvas, contracurvas junto ao meu peito, e assim vou cantando um fado incandescente...

sábado, 26 de março de 2005

Um livro...



«Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós»

Franz Kafka

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Hoje, ao percorrer as páginas de um livro, encontrei este simples mas soberbo pensamento de Kafka. Como não poderia deixar de ser, e sendo eu um leitor inveterado, não resisti a citá-lo aqui e a partilhá-lo, por tudo o que de bom, de misterioso e de dignificante encerra.
Desejo de boas leituras.