sábado, 9 de julho de 2005

Abel Botelho - Um Assento de Baptismo

Abel Botelho
.
Em busca de um Assento

Inúmeros biógrafos têm vindo a escrever que Abel Botelho nasceu na vila de Tabuaço em 23 de Setembro de 1855 ou de 1856. Finalmente, em finais da década de 1970, acabou por ser assumido pela maioria dos autores, bem como pelos que se têm seguido, que o famoso escritor, expoente do Naturalismo Português, tinha nascido no ano de 1855. Referimo-nos aos trabalhos de investigação de Justino Mendes de Almeida (Escorço bibliográfico e estudo linguístico, in Obras de Abel Botelho, vol. I, Lello & Irmão, Porto, 1979), de Monique Benoit-Dupuis (Contribution à la Bibliographie d'Abel Acácio de Almeida Botelho, in Sillages, n.º 5, págs. 49-78, Paris, 1977), e, posteriormente, de José Guilherme Macedo Fernandes (Abel Botelho: filho ilustre de Tabuaço, Lisboa, 1986), além de diversos artigos, do autor destas linhas, publicados em órgãos de imprensa regional no ano transacto.

Todavia, ao que parece, nenhum autor tinha cuidado de procurar uma fonte histórica e verídica, muito utilizada em Genealogia, que na época desempenhava a verdadeira função de registo oficial e que apenas seria destronada definitivamente em 1911 pelo actual Registo Civil: referimo-nos aos Registos de Assentos de Baptismo, e, neste caso, ao Assento de Baptismo de Abel Botelho, único documento autêntico e fonte primária que deveria ter sido desde logo utilizado para solucionar a questão.

Qual não foi o nosso espanto, após deslocação, há poucos dias, ao Arquivo Distrital de Viseu, com o fim de consultar os Livros de Baptismos, Casamentos e Óbitos do Arciprestado de Tabuaço, quando nos deparámos com o conteúdo do assento de baptismo de Abel Botelho que se refere, afinal, ao ano de 1854.

Considerando ser um dever proceder à sua divulgação, aqui fica a transcrição integral do documento, para que de uma vez por todas se dissipem as dúvidas acerca do ano de nascimento de Abel Acácio de Almeida Botelho:

“…
Abel, filho legitimo de Luiz Carlos d’Almeida Bo- / telho, natural de Viseu, Freguesia da Sé = e de / D. Maria Preciosa d’Azevedo Botelho, desta Fregue- / sia, nepto paterno de Christovão Antonio d’Almei-/ da e Costa da Freguesia de Monsanto, Bispado de / Castello Branco = e de D. Helena Joaquina / da Fonseca da Freguesia de Castello Bom, Bispado / de Pinhel = e materno de Bento d’Azevedo Leitão / desta Freguesia, e de D. Maria Bernarda da / Freguesia de Fonte arcada, deste Bispado, foi por / mim solemnemente baptizado no dia vinte um / de Novembro de mil oito centos cincoenta e qua- / tro, tendo nascido a vinte e tres de Septembro do / mesmo anno supra; foram Padrinhos seus / avós maternos = Bento d’Azevedo Leitão e / D. Maria Bernarda = e testemunhas o Rd.º P.e An- / tonio Vaz Pereira = e o Rd.º P.e Manoel Ribeiro da / Fonseca; e para constar fiz este assento que assignamos

O Abb.e Antonio Soares Martinho

P.e Ant.º Vaz Ferr. .............. P.e Manoel Rib.º da Fon.ca
...”
.
Fonte: Livro de Baptismos da Freguesia de Tabuaço, concelho de Tabuaço,
Ano de 1854, Cx. 14, n.º 3, fl. 91 v.º.

Observações: As mudanças de linha vão assinaladas com o sinal /

27 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns Gustavo pelo excelente trabalho de pesquisa.
Apenas um ano de diferença dirão alguns, mas que muda tudo na história deste grande conterrâneo que foi Abel Botelho.
A festa do centenário de seu nascimento que no caso já deveria ter acontecido, será sem dúvida celebrada pelos tabuacenses com "um pouco de atraso" mas que será sem dúvida perdoado pelo próprio lá onde ele se encontra.
Espero que a nossa autarquia através dos seus mais altos representantes saiba dignificar esta data com todo o relevo que ela merece.
Mais uma vêz parabéns pela excelente pesquisa e de certo que o Abel Botelho terá orgulho nos descentes do seu torrão Natal.
Só uma dúvida e ao mesmo tempo a pergunta: Será que foi na casa indicada nos apontamentos históricos que ele nasceu ou foi na casa em frente ao lagar românico do azeite quem desce da praça em direcção a São Vicente ?!... Acho que o dr. José Guilherme tem as mesmas dúvidas que eu.
Um abraço
OBRibeiro

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá amigo Osvaldo. No que concerne à divulgação do assento de baptismo de Abel Botelho, não faço mais do que a minha obrigação, considerando ser dever de todos dar conhecimento público de factos históricos importantes acerca dos seus municípios quando deles tenham conhecimento.

Relativamente à casa onde se diz ter nascido Abel Botelho, será a da Rua das Ameixoeiras, que liga ao Largo do Terreiro, ou a da Rua da Cruz, popularmente chamada de Solar das Bem Haja e que possui um nicho com uma imagem da Senhora da Conceição?

É uma questão que já colocei a mim próprio, mas que, creio, apenas poderá ser desvendada se existirem documentos oitocentistas que atestem a propriedade por parte de elementos da família Azevedo Leitão, de Tabuaço.

No entanto, é preciso não esquecer que, o facto de algum desses imóveis ter pertencido a essa família não é, necessariamente, condição sine qua non para se dizer que foi aí que nasceu Abel Botelho...

Um abraço,

Gustavo

Anónimo disse...

O meu pedido de desculpa pelo erro cometido ao me referir ao "Centenário" de Abel Botelho quando na realidade se deverá comemorar o século e meio do seu nascimento embora com algum atraso.
As minhas desculpas ao Gustavo e um agradecimento à Ana Paula por me lembrar.
São os "nossos" eternos problemas de matemática tão ao gosto do nosso povo. Que o diga o António Guterrez, não é?!...

Um abraço aos dois,

Osvaldo

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Ana Paula: Obrigado pelo comentário. É verdade... A Genealogia permite-nos procurar, com o devido rigor, a fundamentação de muitos factos que importam à nossa história e à nossa vivência cultural.

Osvaldo: Errare humanum est. Eu que o diga que, tal como outros autores, entre os quais o nosso amigo Macedo Fernandes, sempre fomos atrás da data de 1855, convencionada por Justino Mendes de Almeida e Monique Benoit-Dupuis na década de 1970.

Mas, como se costuma dizer: mesmo aquilo que é bem feito, é sempre susceptível de ser melhorado...

Andre Moa disse...

Caro Gustavo, deixe-me elogiar-lhe e agradecer-lhe a busca efectuada com inteiro êxito e que põe termo à grande dúvida que até agora pairava na mentes de todos nós. Afinal, sem se saber, as deliberações da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal de Tabuaço, tendentes a comemorar todos os anos o dia do nascimento do Abel Botelho, coincidiram com a passagem dos 150 anos, já que a primeira comemoração se verificou no ano passado. Malhas que o império tece!
Um abraço.
José Guilherme Macedo Fernandes

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Agradeço o elogio, mas reencaminho-o para todos aqueles que apreciam a figura de Abel Botelho e a sua obra.

Não me tenho cansado de, nos últimos meses, ir lendo as obras completas de Abel Botelho, edição da Lello & Irmão, descobrindo recantos deste nosso país, figuras densas que nos fazem repensar muitos males que afligem ainda hoje a sociedade portuguesa, e excelentes descrições de um todo que engloba os circunstancialismos vivenciais de finais do séc. XIX e inícios do séc. XX.

É verdade que deveríamos ter comemorado os 150 anos do nascimento de Abel Botelho em 23 de Setembro do ano transacto. Mas, também é verdade que nos encontramos, ainda, a comemorar esses 150 anos até ao próximo dia 23 de Setembro.

Por tudo isso e, ainda mais, pelas inúmeras ideias que a Comissão Organizadora do Prémio Abel Botelho, a Câmara Municipal de Tabuaço e a Assembleia Municipal de Tabuaço entenderem empreender, em conjunto com a sociedade civil, todos os anos, em contínua e aprofundada homenagem a essa figura impar da vida nacional, creio que será sempre de louvar e de incentivar, e relevará para segundo plano este pequeno equivoco em que temos todos laborado.

augustoM disse...

Gustavo, os elogios já foram dados pelos outros, quanto ao Abel Botelho, não sei se é uma vergonha ou não, mas não conhecia a sua existência. Vale a visita para deixar um abraço. Augusto

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá Augusto.

Agradeço-lhe o comentário. Pergunta-me se é uma vergonha o facto de desconhecer quem foi Abel Botelho? Não me cabe a mim julgar, senão a si próprio sobre se perdeu muito, ou não, até agora em desconhecer a obra deste autor.

Quanto muito, aquilo que lhe posso dizer é que foi um dos grandes da nossa cultura em finais do séc. XIX e inícios do séc. XX.

Abel Botelho costuma ser apontado como um dos principais «rivais» de Eça de Queirós, em termos literários. Diz-se que, se Eça foi o pai do Naturalismo literário em Portugal, na esteira de Emile Zola, Abel Botelho acabou por ser o seu expoente máximo.

Se quiser saber mais informações sobre o autor, pode ver o arquivo do mês de Março de 2005, onde eu já tinha escrito mais algumas coisas, e onde existem links para outros sites.

No entanto, aquilo que melhor se pode fazer, é ler e apreciar a sua obra, que se estende desde a poesia ao romance, passando pelo conto e a dramaturgia. Este ilustre tabuacense também colaborou proficuamente com a Imprensa da época, através da redacção de inúmeros artigos sobre os mais diversos assuntos e áreas de interesse.

Já agora aqui ficam algumas dicas:

Poesia

- Lira insubmissa (publicada em 1885 e escrita entre 1874 e 1883).

Romance

Da série «Patologia Social»:
- O Barão de Lavos (1891);
- O Livro de Alda (1898);
- Amanhã (1902);
- Fatal dilema (1907);
- Próspero Fortuna (1910).

Outros:
- Sem remédio (1900);
- Os Lázaros (1904);
- Amor crioulo (1919 - publicação póstuma).

Conto

- Mulheres da Beira, 1898.

Teatro

- Jucunda, comédia em 3 actos, representada em 1889;
- Claudina, comédia em 4 actos, representada em 1890;
- Vencidos da Vida, comédia em 3 actos, representada em 1892;
- No Parnaso, farsa lírica em um acto, representada em 1894;
- Imaculável, comédia em 4 actos, representada em 1897;
- Fruta do Tempo, comédia, representada em 1904;
- Germano, drama em verso, publicado em 1896.

Colaboração na Imprensa

O Dia, Ocidente, O Século, A Ilustração, Revista Moderna, Revista Literária, Serões, Mala da Europa, Diário da Manhã, Novidades, Correio Português, Portugal e Reporter, de que foi director.

Anónimo disse...

Amigo Gustavo, acho que seria bom informar também a importância que teve Abel Botelho no que concerne à nossa Bandeira Nacional, a nossa tão amada Bandeira das Quinas.
Se a temos e a idolatramos e com orgulho a exibimos por todo o mundo e este mesmo mundo a reconhece, muito se deve ao Abel Botelho.

Um abraço,
Osvaldo

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá outra vez, amigo Osvaldo.

Sim é verdade.

Abel Botelho fez parte da comissão encarregue de pensar a bandeira da República Portuguesa. Trata-se de informação que eu já tinha referido num post deste blog, em Março deste ano, razão pela qual remeti a leitura para essa publicação anterior e onde está, em comentário, um link para uma reportagem sobre Abel Botelho que se encontra on line no Espigueiro - Central de Informação Regional de Trás-os-Montes e Alto Douro. De qualquer forma, agraceço-lhe a lembrança.

Um abraço,

Gustavo

AnaP disse...

:) Estou a ver os teus olhinhos a brilhar com a descoberta! :) Um beijinho grande, meu querido!

AnaP disse...

Estive a ler os outros comentários e de repente o meu parece tão fútil. Mas, a verdade é que parece que estou a ver os teus olhos a brilhar por teres feito esta descoberta. Como te conheço bem, acabo por remeter para a tua essência em vez de comentar o evento em si :) Um beijo!

Leonor disse...

gustavo, cheguei tarde e a más horas a fim de fazer um comentário que não repetisse os anteriores.

por isso aqui vai o que já ouviste anteriormente, a pesquisa está perfeita. e bem explanada.

abraço da leonor

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

AnaP: Obrigado pelas palavras. O brilho no olhar que referes só poderá ser do sentimento de dever cumprido. Beijos.

Leonoretta: Agradeço as palavras, mas, quero deixar aqui vertido que o resultado não é mais do que o que o rigor, que muito prezo, exige.

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá Claúdia!

Parece-me que não é a primeira vez que aqui deixas um comentário.

Então e o comentário sobre Fernando Pessoa e os Românticos e Realistas?

Quanto ao teu actual comentário, não mereço tanta lisonja. Apenas faço aquilo que sinto ser minha obrigação, de acordo com as minhas capacidades e aquilo que tenho vindo a aprender e a descobrir sobre Tabuaço, um concelho que merece tanto...

De qualquer forma, obrigado pelas tuas palavras.

Dado que adoras escrever, muito bem por sinal (será que é fruto dos genes tabuacenses? Não admira que o G. esteja bem enamorado da tua beleza interior, que, por certo, erradia pelo exterior), espero que voltes muitas, muitas vezes.

;-)

Pe.T.C. disse...

Convite:
Quero felicita-lo pelo trabalho de pesquiza. Agradecer por o partilhar.
Um convite...passe pelo meu blog...se lhe agradar link-o ao seu que eu farei o mesmo. Obrigado

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Tocarlos:

Agradeço-lhe a atenção e as felicitações. Sabem sempre bem numa época em que o homem se deixa seduzir pela falta de rigor, de bom senso e de profissionalismo.

Quanto a nós, mesmo que de forma imperfeita, tentamos sempre remar contra a maré, com todos os dissabores que isso nos pode causar...

Quanto ao seu blog, estou certo que, com tempo, irei visitá-lo mais detalhadamente e deixar vertidas algumas palavras sobre os assuntos que me prendam a atenção.

Desde já, fica convidado a visitar este refúgio por muitas mais vezes.

Bem haja!

Anónimo disse...

Olá Gustavo!
Belo trabalho! Um beijinho,

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Dad: Acredite que foi um trabalho que me fez suar...

Quando é que volto a ver a minha querida amiga?

Beijos.

Amita disse...

Felicito-te pelo excelente trabalho de pesquisa e pela partilha do mesmo. O rigor na informação é muito importante nos tempos conturbados que vivemos. Parabéns, Gustavo. Um Bjo

Anónimo disse...

Gustavo, o Abel Botelho começa a estar cansado de esperar em pé. Veja se encontra rapidinho um assento p'ra ele.
Compreendeu, né?!...
Um abraço

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Caro Osvaldo, creio que Abel Botelho não se importaria de esperar um pouco, de forma elegante como era seu apanágio, para que este guerreiro pudesse descansar um pouco. Cheguei agora de umas pequenas férias necessárias e merecidas. Todavia, creio que cerca de 700 visitantes já tiveram oportunidade de aprender a data correcta do nascimento de Abel Botelho. Não lhe parece? Quanto ao resto, vou tentar continuar a ser um Jovem Irreverente, que não se contenta em desmascarar a mediocridade dos outros, mas que espera, isso sim, por exaltar o que de melhor há em nós, a bem da nossa nação, das nossas regiões e das nossas populações. É preciso, de vez em quando, agitar as águas para que não fiquem turvas. Muitos nem sequer imaginarão o quanto poderá ser absorvente agitar as águas…

Anónimo disse...

Muito me agrada ver jovens interessados em escritores que a maioria nem sequer sabe que existiram nem o papel importante que desempenharam na nossa sociedade.Abel Botelho foi casado com uma irmão do meu Avô e fui eu que dei todos os elementos á Mme Benoit para a tese dela.cumprimentos.

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Agradeço as suas amáveis palavras, principalmente por provirem de um sobrinho-neto de D. Virgínia de Alcântara. Tenho estudado a família de Abel Botelho, bem como da sua tia-avó, mesmo enquanto investigador, membro da Associação Portuguesa de Genealogia e, caso esteja interessado, poderemos trocar impressões sobre os mesmos. Meu e-mail: gustavo.a.m.almeida@gmail.com

Com os melhores cumprimentos,

Gustavo Monteiro de Almeida

Arlindo Rodrigues disse...

Caro Gustavo,

Apesar dos dados irrefutáveis que trouxe a lume, a Biblioteca Nacional de Portugal, no seu catálogo bibliográfico (Porbase), continua a dar Abel Botelho como nascido em 1856.

Com os melhores cumprimentos,

Arlindo Rodrigues

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Se fosse só a biblioteca nacional, estaríamos nós bem. Veja-se o site da Câmara Municipal de Tabuaço, apesar de tanto já se ter escrito sobre o assunto, inclusive em edições camarárias...

Unknown disse...

Gustavo,
Devagar, devagarzinho, chegaremos lá.
A Câmara Municipal de Tabuaço, pelo menos nas redes sociais (Facebook), já reconhece que Abel Botelho nasceu em 1854.

Cumprimentos,
Arlindo Rodrigues