terça-feira, 16 de agosto de 2005

Vai...


Em jeito de partilha:


Vai...

Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito.
Para alcançar a estrela inalcançável.

Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela.
Sem quereres saber quão longe ela se encontra;
nem de quanta esperança necessitarás;
nem se poderás ser maior do que o teu medo.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.

Para carregar sobre os ombros o peso do mundo.
Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se pode morrer, porque precisam lá de ti.
Pisarás terrenos que muitos valentes não se atreveriam a pisar.
Partirás para longe, talvez sem saíres do mesmo lugar.

Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra "amigo" o seu sabor a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também do teu corpo e - ou - muitos mais nascidos apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras dos homens.
Para descobrir os caminhos que há no ventre da noite.
Para vencer o medo.

Não medirás as tuas forças.
O anjo do bem te levará consigo, sem permitir que os teus pés se magoem nas pedras.
Ele, que vigia o sono das crianças e coloca nos seus olhos uma luz pura que apetece beijar, é também guerreiro forte.
Verás a tua mão tocar rochedos grandes e fazer brotar deles água verdadeira.
Olharás para tudo com espanto.
Saberás que, sendo tu nada, és capaz de uma flor no esterco e de um archote no escuro.

Para sofrer aquilo que não sabias ser capaz de sofrer.
Para viver daquilo que mata.
Para saber as cores que existem por dentro do silêncio.
Continuarás quando os teus braços estiverem fatigados.
Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza.
Tu saberás que um homem pode seguir em frente apesar de tudo o que dói, e que só assim é homem.

Para gritar, mesmo calado, os verdadeiros nomes de tudo.
Para tratar como lixo as bugigangas que outros acariciam.
Para mostrar que se pode viver de luar quando se vai por um caminho que é principalmente de cor e espuma.
Levantarás do chão cada pedra das ruínas em que transformaram tudo isto.
Uma força que não é tua nos teus braços.
Beijá-las-ás e voltarás a pô-las nos seus lugares.

Para ir mais além.
Para passar cantando perto daqueles que viveram poucos anos e já envelheceram.
Para puxar por um braço, com carinho, esses que passam a tarde sentados em frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento: "ainda não é suficiente".
Disposto a ir às portas do abismo salvar uma flor que resvalava.
Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada.
Disposto a ter contigo dores que são semente de alegrias talvez longe.

Para tocar o intocável.
Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar.
Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.


Paulo Geraldo, in http://cidadela.com.sapo.pt

13 comentários:

augustoM disse...

Gustavo,óptimo regresso, uma excelente fotografia inspiradora do não menos excelente poema que publicaste.
Um homem com letra grande deve ter um coração do tamanho do mundo e a sua vida inspirada pelo sonho de amar o seu semelhante.
Um abraço. Augusto

AnaP disse...

Meu querido,
Este poema foi feito para ti. Serve-te como uma luva. Um beijinho muito grande! :)

Leonor disse...

ola gustavo. grande ausencia, porém, valeu a pena a espera para ler um poema deste calibre que fala do homem quase divino.

a paisagem ... sublime.

abraço da leonor

Maria disse...

Por esse caminho ousaria perder a noção do tempo. "Para devolver à palavra amigo o seu sabor a vento e rocha" é um esforço que todos devemos fazer, porque os amigos podem ser a coisa mais importante que temos.
Dulce

Maria Lagos disse...

Olá Gustavo,
Grandes férias e uma bela entrada!
Então grandes festas em Tabuaço proximamente em honra do seu homenageado anterior?
Gostei muito do post. Parabéns! Não melhor que um bom poema para a volta às lides.

Anónimo disse...

Vai... percorre os trilhos traçados pelo vento, transpõe os cinco elementos que os braços do tempo te estendem em frondosa ramaria. Lá, ao fundo, está a nascente do arco-íris, serenamente correndo na musicalidade que brilha...intensamente.

Desculpa, Gustavo, mas é tão belo o poema que partilhas que, com ele e com a imensa fotografia, divaguei.
Uma boa semana e um bjo da Amita//brancoepreto.blogs.sapo.pt

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá amigos, cá estou eu de volta, pronto para novas «batalhas», sempre em busca do bem e do belo. A caminhada, já se sabe, será longa…

Augusto: Obrigado pelos cumprimentos. Uma vez que nem o poema nem a imagem são da minha autoria, creio, no entanto, que os mesmos demonstram um estado de alma que eu próprio sinto, vivo e anseio por desenvolver, razão pela qual os escolhi para divulgação.

Ana: Quem diria? Não é? Deparar-me com um poema com este teor e que, como tu dizes, humildemente me “serve como uma luva”… Beijos

Leoronetta: Sim, é verdade. Uma grande ausência, ou talvez nem tanto… Mas, agora estou de volta, depois de alguns dias de férias necessários…

Dulce: Grande verdade, que deve ser cumprida, letra por letra!!

Maria Lagos (Dad): Olá amiga. As férias até foram bem curtas. Os compromissos laborais é que foram mais abundantes e pesados, obrigando a uma pausa deste blog ainda antes das férias. Mas, creio que agora as coisas já estão doseadas e equilibradas, como eu gosto, ou não fosse eu um Balança. Quanto a Abel Botelho, estou certo que a Comissão Organizadora saberá honrar bem a memória do escritor tabuacense nesta II.ª edição do Prémio Abel Botelho.

Amita: Compreendo perfeitamente a tua divagação. Também a mim sucedeu. E escrevia eu, há alguns meses atrás, acerca dos percursos de vida e do caminho de cada um… Ao ler este poema, achei que a melhor forma de o saborear seria através da sua divulgação, razão pela qual o publiquei aqui, com menção do autor, Paulo Geraldo, e do seu blog.

augustoM disse...

Gustavo, obrigado pela visita e pelo simpático comentário.
A procura da perfeição, que sei ser muito difícil, deveria ser o objectivo de todos os homens, mesmo que para isso tenham de ultrapassar barreiras quase intranponíveis, como sublimar o seu próprio egoísmo.
A virtude não nasce connosco, conquista-se.
Um abraço. Augusto

Menina Marota disse...

Um poema tocante. Gostei. A beleza da imagem, encanta...

Abraço ;)

Manuel disse...

E repetir as tuas palavras ao longo dessa imensa e majestosa alameda, será um privilégio só ao alcance de quem sabe viver.

ZéZé disse...

Belo trabalho muito bomgosto. Foi a 1ª vez que visitei o teu lindissimo blog e fiquei ternurenta. Tambem sou balança....
Gostei muito, muito

Zézé

100clichês ! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
100clichês ! disse...

quanta beleza em tuas palavras... Parabéns, meu querido...
... Quisera eu ter todo esse talento, esse dom...
abraço...