quinta-feira, 31 de março de 2005

O Triunfo do Inverno


O Triunfo do Inverno

«...La sierra de Sintra viene
Que estaba triste del frio,

Gozar del triunfo mio,
Que á su gracia conviene.
Es la sierra mas hermosa
Que yo siento en esta vida:
Es como dama polida,
Bravá, dulce y graciosa,
Namorada y engrandecida.

Bosque de cosas reales,
Marinera y pescadora,
Montera y gran cazadora,
Reina de los animales.
Muy esquiva y alterosa,
Balisa de navegantes,
Sierra que á sus caminantes
No cansa ninguna cosa.

Refrigerio en los calores,
De saludades minero,
Contemplacion de amores,
La senora á que yo mas quiero,
Y con quien ando damores.

[…]

Hum filho de hum Rei passado
Dos gentios Portugueses
Tenho eu muito guardado,
Ha mil annos e tres meses
Per hum magico encantado.
E este tem hum jardim
Do paraiso terreal,
Que Salomão mandou aqui
A hum Rei de Portugal;
E tem-no seu filho ali.

Este será bom presente,
E eu irei por elle asinha,
Porque he pera a Rainha
Justo e conveniente.
O qual Principe virá
Em pessoa aqui com elle,
Que sabe as virtudes delle,
E como e quem o trouxe ca,
E quando se monta nelle.

E virá acompanhado
Dessas cachopas sintrans,
E de mancebos do gado,
Louçãos e ellas lonçans,
Com seu cantar costumado...»
.
Gil Vicente, O Triunfo do Inverno, teatro, 1529
.
Provavelmente poucos conhecerão este texto daquele que é considerado o pai do teatro português. Trata-se de um excerto bastante apetecível, aliás, para quem, como eu, adore o Glorious Eden que é Sintra, e que aqui fica vertido em homenagem ao seu autor e àquele paraíso terrestre.

quarta-feira, 30 de março de 2005

Contracurvo

Foto: Caroline Borba

Contracurvo... sigo o teu perfil, dedilho as tuas cordas e retiro sonoridades de ti, sim...

Logo após, vou sendo tocado por ti, numa contradança volátil, gnose etérea e férrea, pungente...

Já não sei onde estou, onde estamos ou o que fazemos, de tão perdidos que ficamos, perto de ti, longe de mim.

Apenas sinto as tuas curvas, contracurvas junto ao meu peito, e assim vou cantando um fado incandescente...

sábado, 26 de março de 2005

Um livro...



«Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós»

Franz Kafka

.
Hoje, ao percorrer as páginas de um livro, encontrei este simples mas soberbo pensamento de Kafka. Como não poderia deixar de ser, e sendo eu um leitor inveterado, não resisti a citá-lo aqui e a partilhá-lo, por tudo o que de bom, de misterioso e de dignificante encerra.
Desejo de boas leituras.

quinta-feira, 24 de março de 2005

Páscoa



Deixo aqui vertido o desejo de uma Boa Páscoa para todos os visitantes deste blog.

Que aproveitem este período de meditação para descansar, para estarem com os seus, passearem, regressarem às origens, relembrarem todos os bons e menos bons momentos e o longo aprendizado da vida que vai moldando cada um de nós.



Douro românico encantado

Tabuaço

Douro românico encantado

A Sul do rio Douro, com o qual confronta, o concelho de Tabuaço, encontra-se incluído na classificação do Alto Douro Vinhateiro – Património Mundial, fazendo fronteira com Armamar a Ocidente, com Moimenta da Beira e Sernancelhe a Sul e com S. João da Pesqueira a Leste.

Geografia e Economia

Concelho duriense, onde se produz o vinho do Douro, o néctar dos Deuses, o vinho do Porto, estende-se por uma área aproximada de 135.7 Km2 (dados INE) e é constituído por 17 freguesias, 22 povoações e 5 lugares, pertencendo administrativamente ao Distrito de Viseu e estando integrado na Região de Turismo do Douro Sul. A sua população conta com cerca de sete mil habitantes repartidos pelas dezassete freguesias que o constituem, a saber: Adorigo, Arcos, Barcos, Chavães, Desejosa, Granja do Tedo, Granjinha, Longa, Paradela, Pereiro, Pinheiros, Santa Leocádia, Sendim, Tabuaço, Távora, Vale de Figueira e Valença do Douro.

Alongando-se ora por zonas bastante montanhosas ora por vales profundos e majestosos, o seu território aparece definido por uma notável paisagem diversificada, nomeadamente pelo planalto de Chavães, que atinge a sua altitude máxima a pouco mais de 950 metros, pelos vales dos rios Tedo, Távora e Torto, todos afluentes do Douro, e que, aliás, emprestam à paisagem tabuacense voltada a Norte, principalmente ao Douro, a tipicidade dos socalcos e dos patamares da Região Demarcada mais antiga do mundo, onde impera a vinha, o olival e a amendoeira. Para a parte Sul do concelho, abrangendo quase dois terços do território, as características paisagísticas são já bastante diferenciadas da porção duriense, demonstrando o seu cunho nitidamente beirão, onde predomina o cultivo do cereal, da batata, da castanha, através dos cada vez mais raros soutos, e da plantação do pinheiro, bem como a caça e a pastorícia na parte planáltica da serra de Santa Luzia (ou de Chavães, como também é conhecida).

Desse modo, facilmente se compreende que a economia deste concelho, à semelhança da região onde se insere, assente sobretudo na agricultura, destacando-se o vinho generoso como produto principal por excelência. No entanto, também o azeite e a batata, assim como os cereais, a baga de sabugueiro, as frutas ou as cerejas de Távora, constituem parte desta riqueza agrícola. As zonas vitícolas são geradoras de rendimentos bastante expressivos, quando comparadas com a maioria dos restantes sistemas de agricultura praticados no concelho. Nestas zonas, conhecidas como das "Quintas do Douro", para além de disporem de uma superfície agrícola utilizada que é significativamente superior à média das explorações agrícolas do concelho e da região, possuem também, em diversos casos, estruturas de vinificação e de armazenamento próprias.

A estrutura produtiva do concelho é marcada pela predominância de pequenas explorações do tipo minifundiário, pertencendo as explorações agrícolas de maior dimensão à Região Demarcada do Douro. As principais culturas agrícolas são, como já foi dito, o olival e a vinha, assumindo também importância o cultivo da batata, do centeio e de algumas árvores de fruto.

O turismo no espaço rural constitui uma actividade de grande potencial económico para o concelho de Tabuaço, na medida em que pode constituir uma fonte extra de receitas, criando sinergias entre as diversas actividades económicas e estimulando os agentes regionais e locais para a criação de mais serviços e infra-estruturas. O comércio, hoje em dia mais diversificado, bem como a indústria, ainda que incipiente, têm trazido alguma riqueza a esta região.

Toponímia

Segundo A. de Almeida Fernandes, o topónimo de Tabuaço, com modesta significação, poderá ter advindo do derivado «távoa» (< lat. tabula) + aço, mais precisamente um passadiço de madeira ou tabuado sobre algum riacho local. Curiosamente, e em abono da tese do ilustre historiador beiraltino, o, outrora, minúsculo concelho de Tabuaço aparece referido em 1527, no Cadastro da População do Reino, com a grafia «Tavoaço».

História

Os mais antigos vestígios da passagem do Homem nesta região remontam, pelo menos, ao Neolítico Médio/Final (IV/III milénio a.C.), com ocupação alargada a períodos posteriores. Parece, então, lícito afirmar que, desde épocas bastante remotas, houve uma ocupação efectiva e aparentemente ininterrupta do espaço compreendido actualmente pelo concelho de Tabuaço.

Vestígios da cultura castreja, anterior à Idade do Ferro, encontram-se por todo o concelho. O exemplar mais expressivo é a citânia de Longa, classificada como Imóvel de Interesse Público, e que se implanta a mais de 900 m de Altitude, fruindo de uma possante muralha exterior recentemente recuperada. Existem outros castros e povoados amuralhados, como por exemplo os do Sabroso em Barcos, do Calfão em Távora, de S. Mamede em Paradela, ou de Cabriz em Sendim, e cujas idades, à falta de escavações e estudos mais aprofundados, ainda não foram definitivamente asseguradas. Por outro lado, a passagem dos romanos deixou sinais em castros ocupados, calçadas, pontes e outros inúmeros achados arqueológicos, principalmente na área da freguesia de Sendim (séculos I/V d.C.).

O séc. VIII, mais concretamente o ano de 711, marca definitivamente outro ponto de viragem na nossa História, com a intromissão e conquista de territórios pelos Muçulmanos, cuja permanência se fará notar por mais de 500 anos. No entanto, no actual território tabuacense, as únicas referências que nos reportam aos Muçulmanos são as lendas, não tendo sido identificados, por enquanto, quaisquer testemunhos materiais. Efectivamente, os únicos vestígios presentes encontram-se na imaginação popular, merecendo especial destaque a curiosa lenda da virgem moura, a princesa Ardinga ou Ardínia, filha do vali de Lamego, rei Alboacém, e que poderá conter alguns aspectos verdadeiros: Conta-se que andavam por estas bandas, em peleja contra os mouros, os irmãos cavaleiros D. Tedon e D. Rausendo Ermiges, descendentes de Ramiro II de Leão, e notáveis pelos actos de bravura durante a Reconquista a Sul do Douro, entre os rios Tedo e Távora. Ardínia, exaltada e enamorada pelos feitos heróicos do cavaleiro cristão D. Tedon e desejosa de o conhecer e tomar por esposo, fugiu uma noite do castelo de Lamego, acompanhada de sua colaça, acabando por se abrigar num eremitério onde o eremita Gelásio se havia recolhido e fazia jejuns e orações. Pediram o baptismo e a jovem moura suplicou a presença de D. Tedon. Entretanto, o pai de Ardinga partiu com soldados no encalço da filha renegada, e, ao encontrá-la, degolou-a e atirou o seu corpo ao Távora. D. Tedon, ao ter conhecimento do sucedido, fez voto de celibato e deu sepultura cristã à jovem mártir no local onde mandou erguer, com o irmão, o primitivo Mosteiro de S. Pedro das Águias. No decorrer das lutas o rei mouro terá morto D. Tedon nas margens do rio que tomou o seu nome.

Segundo autores antigos, seu irmão e descendentes acabaram por ser os primeiros senhores de Távora, família nobre muito antiga no seio da qual frutificaram grandes homens de Portugal, nomeadamente o 1.º Conde de São João da Pesqueira ou o 1.º Marquês de Távora, prestando grandes serviços à Nação e cuja linha sucessória apenas seria interrompida em 1759 com o mal explicado atentado à pessoa de El Rei D. José I, e consequente perseguição, julgamento e execução em Belém.

No entanto, e voltando aos primórdios da reconquista cristã, sempre se diga que as lutas atraíram sempre religiosos que, fundando cenóbios minúsculos ou majestosos, atraíam ainda outros habitantes e foram, por sua vez, dando origem a núcleos habitacionais. Nesse sentido, é provável que alguns núcleos habitacionais se tenham desenvolvido também no concelho de Tabuaço com uma origem eremítica, tal como sucedeu com o Mosteiro de S. Pedro das Águias, que inicialmente terá sido um eremitério, inscrito a posteriori na regra beneditina até que, já em 1172, aparece pela primeira vez referido como tendo acolhido a regra de Cister.

Do período beneditino, talvez com influência de Cluny, conserva-se ainda hoje a preciosa Igreja de São Pedro das Águias, em Granjinha, verdadeira jóia do românico português, implantada entre grandes escarpas e o leito do rio Távora, lembrando a provável fundação eremítica. Outros exemplos do românico em Tabuaço são a igreja de Santa Maria do Sabroso, antiga sede de colegiada e primeira paróquia da região após a reconquista, em vias de classificação, bem como a actual Igreja Matriz de Barcos, classificada como Monumento Nacional, para onde terá passado nos séculos XIII/XIV a sede da Colegiada. Outras igrejas, no entanto, terão sido edificadas na mesma época apesar de posteriormente terem tido obras de vulto que lhes deram feições mais maneiristas ou barrocas, como são os exemplos da actual Igreja Matriz de Tabuaço, e que então seria uma simples capelania, a majestosa Igreja Matriz de Sendim ou a cenográfica Igreja Matriz de Longa. No que concerne à primitiva Igreja Matriz de Távora, foi reconstruída e ampliada na 2.ª metade do século XVIII, mostrando-se actualmente como um belo exemplo de igreja do período Rocaille.

Aliás, em 1321, com as inquirições desse ano, apenas surgem referidas as abadias de Santa Maria do Sabroso, de São João Batista de Távora, de Santa Maria de Sendim e de São Pelágio de Longa, demonstrando a importância dessas paróquias, além do Mosteiro de São Pedro das Águias, que nesta época já deveria ter sido trasladado para a situação actual, mais airosa. No entanto, deverão ter existido outros edifícios de feição românica, como por exemplo o mosteirinho de São Fraústo, na Granja do Tedo, ou a antiga Capela de Nossa Senhora do «Falção», em Távora, ou ainda a Igreja de Santa Maria da Foz do Torto, em Valença do Douro.

Subsistem ainda diversas pontes, com provável fundação romana, ligando os antigos eixos secundários da região, provavelmente recuperadas após a reconquista e em épocas posteriores e que nos mostram ainda os típicos tabuleiros com cavalete pronunciado de feição medieval, como sejam as duas pontes que atravessam o rio Tedo e o rio Tedinho, ambas na Granja do Tedo, uma outra ponte sobre o rio Tedo, entre Santa Leocádia e Santo Adrião (Armamar), ou a antiquíssima ponte do Fumo, entre Távora e o Pereiro. Acresce referir que existem inúmeras sepulturas antropomórficas espalhadas por todo o concelho, destacando-se as sepulturas do adro da Igreja Matriz de Sendim, bem como inúmeros lagares escavados na rocha, podendo ser datados desde a Alta Idade Média até aos primórdios da nacionalidade.

Mas, voltando à génese das terras que constituem o actual território tabuacense, convém frisar, e de uma forma muito genérica, que este resulta da fusão de parte dos coutos dos Senhores de Leomil e dos Monges Cistercienses de S. Pedro das Águias. Nestas terras, pertencentes à classe eclesiástica e a grandes senhores, era vedada a entrada de funcionários régios, o que poderá explicar a escassez das fontes medievais no que concerne ao actual concelho, nomeadamente nas Inquirições ordenadas pelos reis. Para além destes dois coutos, várias terras receberam foral, tendo sido instituídos alguns concelhos medievais ou mais recentes, até perfazerem os antigos 11 concelhos desta área territorial, todos já referidos no cadastro do Reino de 1527, e que eram Arcos, Barcos, Chavães, Granja do Tedo, Longa, Paradela (também conhecido como São Pedro das Águias, por nele se achar o Mosteiro com aquele nome), Pinheiros, Sendim, Tabuaço, Távora e Valença do Douro), e que, entre 1836 e 1855, com as reformas administrativas, foram extintos e aglutinados sob a égide de um único concelho: Tabuaço.

Em todas essas freguesias, regra geral, é ainda possível, aos turistas que as visitem, admirar os seus pelourinhos, as antigas casas de câmara, tribunais e cadeias, demonstrativos da sua relativa importância histórica. É também possível entrarem nas igrejas matrizes de todas as freguesias e admirarem o formidável Mundo Novo que a arte barroca nacional e o ouro do Brasil permitiram construir em altares e tectos cobertos de ouro e pinturas e que, mesmo assim, apelam à contemplação e à meditação. Excelentes exemplos desses ricos interiores, a contrastar com os exteriores sóbrios, são as Igrejas de Adorigo, Balsa, Chavães, Granjinha, Paradela, Távora, Vale de Figueira e principalmente as Igrejas de Arcos, Barcos, Desejosa, Granja do Tedo, Longa, Pinheiros, Santa Leocádia, Sendim e Tabuaço, e que poderão vir a formar no futuro um roteiro do Barroco Tabuacense.

Tabuaço dispõe actualmente de um excelente Posto de Turismo, implantado na antiga Escola do Conde de Ferreira, e onde pode ser visitada uma exposição permanente de arqueologia do concelho, bem como solicitada informação acerca dos alojamentos turísticos existentes e dos inúmeros percursos e ofertas que os tabuacenses tem para oferecer a quem os visita, como por exemplo diversos percursos pedestres, em que se destaca o GR14, Grande Rota dos Vinhos da Europa, que atravessa o concelho, vindo de Armamar, passando pelo rio Tedo, Granja do Tedo, Longa, Arcos, Sendim e rio Távora e depois continuando por terras de São João da Pesqueira.

Ainda no Posto de Turismo é possível admirar o famoso RIJOMAX, considerado pela Patek Philip como o relógio mais completo e complicado do mundo, obra do saudoso mestre relojoeiro Amândio José Ribeiro, e conhecer, através das inúmeras publicações com chancela camarária postas à disposição do público, inúmeras histórias que têm marcado os Tabuacenses, nomeadamente a de Maria Coroada, e sua família, que foi a fundadora, em meados do século XIX, do denominado «Cisma da Granja do Tedo».

A Câmara Municipal de Tabuaço, presidida pelo Sr. Dr. José Carlos Pinto dos Santos, encontra-se empenhada, de uma forma bastante competente, em que num futuro próximo entre em funcionamento, no centro histórico de Tabuaço, mais precisamente na antiga Escola Agrícola Macedo Pinto, um dos núcleos do Museu do Douro, estrutura pioneira pela sua vertente polinuclear, lembrando que Tabuaço é parte integrante do Douro, sonho tornado realidade pelo homem duriense através do trabalho de séculos e do seu casamento com a terra e com a vinha e que foi reconhecido como património mundial em 2001. Do mesmo modo, pretende-se que a classificação, promoção e divulgação da povoação de Barcos como Aldeia Vinhateira, cujos trabalhos de requalificação se encontram em curso, traga inúmeros turistas ao concelho. O mesmo se diga da promoção que tem sido feita de todo um excelente e bastante diversificado património cultural que se espraia por todas as freguesias, e em que se podem destacar os conjuntos patrimoniais das freguesias de Barcos, Granja do Tedo, Longa, Sendim, Tabuaço e Távora.

Berço de literatas, poetas e músicos

Entre muitos outros autores, é possível referir que em Tabuaço nasceu Abel Acácio de Almeida Botelho, no ano de 1855, no seio de uma família de grandes proprietários rurais e miguelistas ferrenhos, tendo-se tornado o expoente máximo do Naturalismo português, na esteira de Zola. Na literatura, o seu primeiro livro foi Lira insubmissa, a que se seguiram O Barão de Lavos, abrindo o ciclo que intitulou de «Patologia Social», pretendendo com este ciclo criticar os vícios da sociedade, O Livro de Alda, Amanhã, Lázaros, Fatal dilema, Sem remédio, Próspero Fortuna e Amor creoulo (a sua última obra).

Também em Tabuaço nasceu, em 1939, o poeta André Moa, pseudónimo do Dr. José Guilherme de Macedo Fernandes, com obra registada desde a década de 1970, e que se distende pela poesia, pelo teatro, pelo conto, pelo romance e pelo ensaio. Algumas das suas obras poéticas principais são: Cantata da paz em dó menor; Poemacão; Do sentimento à razão; P(ovo); De grau 8; Barqueiro do rio homem; Noites de argila. Juntamente com a pintora Dad publicou, nos últimos tempos, duas obras de poesia e pintura, denominadas Lorosa’e e O Espírito das Águas.

Em Barcos nasceu José Pinto Rebelo de Carvalho, no ano de 1792, e que durante o período conturbado das lutas entre liberais e absolutistas, abraçou a causa da liberdade, tendo de se exilar nos idos de 1828 em Londres, onde fundou o jornal A Tesoura. Já em Paris acabou por fundar o periódico O Pelourinho. Usando o nome de Alcipo Duriense escreveu numerosa poesia e uma obra sobre a sua terra natal, Barcos. Deixou ainda trabalhos filosóficos e sobre geologia.

Ainda em Barcos nasceu Norberto Macedo, conhecido compositor, exímio intérprete e consagrado professor de violão (viola clássica) no Brasil, e que tem vindo a formar muitos músicos brasileiros conhecidos. Como concertista, Norberto Macedo é considerado um virtuoso intérprete capaz de impressionar com a sua técnica as mais exigentes plateias e de fazer nascer no íntimo de quem o escuta as mais subtis emoções. A revista americana Creative Guitar Internacional publicou há alguns anos um artigo intitulado Brazilian Macedo Performs, Composes em que Norberto Macedo foi elogiado tanto pela sua técnica e interpretação, como pelas suas composições, considerando que “o talento de Norberto Macedo impressiona como um diamante lapidado a partir da melhor gema”.

Na Granjinha nasceu Alice Pereira Gomes, em 1910. Casada que foi com o escritor Adolfo Casais Monteiro, é um dos expoentes da literatura infantil portuguesa. Quem não se lembra de As Histórias de Coca-Bichinhos ou de Giroflé-Giroflá?

Com origens em Pinheiros, temos actualmente Francisco Gouveia, engenheiro de profissão, e escritor exímio que tem sabido, principalmente através do romance, retratar e redescobrir a geografia humana e psicológica do homem e do Douro, além de profícua colaboração em órgãos de imprensa regional, onde escreve e informa os leitores sobre assuntos de índole geral.

Vinhos, gastronomia e artesanato

Conforme já ficou referido, o vinho de pasto ou de mesa é uma das fontes de receita com peso determinante na economia local, ao lado do azeite e da fruta. Bons exemplos são o vinho Fraga da Moira (branco, tinto, rose) e o D. Thedon, reserva, ambos da Adega Cooperativa de Tabuaço (integrada nas Caves do Vale do Rodo), bem como o recém medalhado tinto de 2003 da Quinta do Monte Travesso. Mas, mais importante é a produção do “vinho generoso”, o vinho do Porto, produzido nas encostas abrigadas e temperadas dos vales do Douro, Torto, Tedo e Távora, em inúmeras, ricas e históricas quintas que ao longo dos séculos foram sendo beneficiadas e se encontram intimamente ligadas à própria história dos seus proprietários, alguns deles famosos. O fausto vinho é produzido nas freguesias de Adorigo, Barcos, Desejosa (principalmente no lugar de Balsa), Granjinha, Pereiro, Sendim, Távora e Valença do Douro.
A zona vitivinícola Encostas da Nave (vinhos de mesa), actual área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Távora-Varosa”, abrange freguesias dos municípios de Moimenta da Beira, Penedono, São João da Pesqueira, Sernancelhe, Armamar, Lamego, Tarouca, bem como quatro freguesias de Tabuaço: Arcos, Granja do Tedo, Longa e Paradela. São conhecidos os vinhos Terras do Demo e Encostas da Nave, em cujos néctares participam os frutos daquelas freguesias. Essas mesmas freguesias integram a Rota das Vinhas de Cister.

Relativamente à gastronomia, poderá ser feita referência ao cabrito assado no forno, à carne de javali, ao guisado de botelho, ao arroz de lampreia e aos peixinhos do rio em molho de escabeche. Os sabores antigos da cozinha estão ainda bem guardados tendo vindo a ser recuperadas, com fidelidade, receitas antigas, como memória destas terras divididas entre o Douro e a Beira. Há também a bola de carne, os bolos caseiros (folares) de ovos e farinha, a bola doce para acompanhar com queijo de cabra, o caldo de castanha pilada, as falachas, o pão-de-ló, etc. Da doçaria conventual, mais precisamente do legado dos Monges de São Pedro das Águias, é possível respigar a Aletria Doce, o Manjar Conventual, o Pudim de Ovos e os populares Tarecos.

No que concerne ao artesanato sobrevivente, e apesar de os ofícios antigos tenderem a perder-se com os tempos, subsistem ainda os trabalhos de cestaria da Granja do Tedo, nomeadamente os chamados cestos vindimos, cestos de carga e trabalho na terra e outras cestas de utilidade vária, as rendilheiras, um pouco por todas as freguesias, os pedreiros, que ainda sabem levantar muros de xisto e esculpir bons trabalhos em cantaria de granito, embora também tendam a desaparecer, um latoeiro, em Tabuaço, e armadores de andores, em Guedieiros. Ainda nesta última povoação, pertencente à freguesia de Sendim, existe um cesteiro que faz cestas delicadas de rolos de palha cosidos com vime (as denominadas brezas), e tem sido reintroduzido aos poucos o trabalho do linho, com a criação de novos produtos.

Romarias

Os dias de festa estendem-se por todo o ano, entre o Natal, a Páscoa e o Carnaval, não esquecendo as festas dos padroeiros ou santos predilectos de cada freguesia, algumas delas reconhecidas como verdadeiras romarias, como por exemplo Santa Maria, em Sabroso (15 de Agosto), Santa Luzia, no termo da vila de Sendim (em 13 de Dezembro), Santa Eufémia em Pinheiros (16 de Setembro), Senhora da Saúde em Longa (1.º Domingo de Agosto), a Feira da Senhora da Ribeira em Valença do Douro (25 de Março), entre muitas outras. No entanto, as maiores são as festas da vila de Tabuaço, pelo S. João (Dia de Feriado Municipal - 24 de Junho), erguendo-se arcos de festa, realizando-se actos culturais solenes, com muita música pelo meio, entre fogo-de-artifício e muita folia, relembrando aos visitantes e romeiros que a vida deve-se conter num equilíbrio certo entre trabalho, paz, realização e comemoração de mais um dia que se concretiza. Assim são as terras de Tabuaço, prontas para o receber como um familiar ou amigo.

Gustavo Monteiro de Almeida, Tabuaço in UNEARTA, revista da União dos Escritores e Artistas Transmontanodurienses, n.º 36, Dezembro de 2004


quarta-feira, 23 de março de 2005

Renascer



Renascer...

Em movimento perpétuo assistimos ao renascer do dia, umas vezes mais luminoso, outras… nem tanto.

Todavia, o ciclo continua…, perfeito como se de um relógio eterno se tratasse.

Assim somos nós. Renascemos, todos os dias, procurando avançar com os nossos desideratos, os nossos projectos, os nossos sonhos.

Viver é sonhar, mesmo que por vezes tenhamos de engolir sapos que nunca suspeitássemos ter de vir a engolir.

Mas não são esses momentos menos bons que nos farão tombar. Quanto muito… apenas nos darão mais força e perseverança para continuarmos a sonhar e a concretizar.

Com efeito, tudo o que nos está destinado, tudo aquilo a que possamos ter direito, mais tarde ou mais cedo, acabará por se juntar a nós próprios e à nossa existência.

Nesse dia… poderei voltar a estender-me no meio do bosque, a mais de 900 metros de altitude, descansar um pouco, respirar fundo, olhar por entre os pinheiros que se alongam verticalmente quase a tocar o céu, e exclamar: «Que espectáculo!!»


sábado, 19 de março de 2005

Que procurais...?



Envolto pelo nevoeiro procuro por ti.

Não sei onde estás, sinto apenas o teu aroma no ar, ora distanciando-se, ora aproximando-se, lentamente...

Não sei por onde vais, que caminho tomaste, se algum dia voltarei a ver-te, a sentir-te...

Resta a esperança e a lembrança. Nossa, tua, minha...

quinta-feira, 17 de março de 2005

Águas revoltas, Amores perenes

Foto: PBT.Inc.1999

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Vagarosas, embora possantes,
Correm hoje as águas do Douro…
Ontem eram indomadas e triunfantes,
Somando mil vezes a força de um touro!


Bucólico corre esse rio obscuro,
Onde amores maiores aconteceram,
Hoje vestígios do sentimento puro,
Da voz, da alma que nos deixaram…

segunda-feira, 14 de março de 2005

Uma janela aberta para o mundo...

Foto: Quinta do Monte Travesso (Barcos - Tabuaço - Douro)
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.
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Uma janela aberta para o mundo...
Por onde se abarca o ser,
Alegre, ledo e profundo,
Em constante e incessante querer.
v

sábado, 12 de março de 2005

As ilhas afortunadas

As ilhas afortunadas

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
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E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
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São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
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Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ) Mensagem

quarta-feira, 9 de março de 2005

À Minha Musa

À MINHA MUSA
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Senhora da manhã vitoriosa
E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.
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Perfil de luz! Imagem religiosa!
Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redimido.
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Mulher perfeita em sonho e realidade.
Aparição Divina da Saudade...
Ó Eva, toda em flor e deslumbrada!
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Casamento da lágrima e do riso;
O céu e a terra, o inferno e o paraíso,
Beijo rezado e oração beijada.
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Teixeira de Pascoaes (1877 - 1952) Senhora da Noite / Verbo Escuro

segunda-feira, 7 de março de 2005

Conversas e cerejas


Um dia, em conversa com uma amiga sobre cousas da nossa cultura, ouvi-lhe, às páginas tantas, uma expressão que me maravilhou, tanto pela portugalidade que encerra, como pela sua aparente simplicidade: "Uma boa conversa é como um cacho de cerejas, pegamos numa e vem outra logo atrás".

Efectivamente, tal expressão bastante lusa, quiçá provérbio antigo e actualmente bastante depurado, lembra-nos que somos um povo que gosta de partilhar ideias, sensações e sentimentos.

Curiosamente, ao observarmos bem o nosso dia-a-dia e o conteúdo das conversas havidas com aqueles que se cruzam nos nossos caminhos, depressa nos apercebemos da velocidade com que saltitamos de tema em tema numa ânsia enorme de novidade e esgrimindo argumentos que nos levam, ínumeras vezes, para outros temas.

Bem ou mal, deparamo-nos com um povo que não para, que não consegue parar, e que por vezes poderá deixar a sensação de não ter saboreado um perfeito entendimento da matéria que foi objecto de conversação.

Neste blog, todos os temas que se relacionem connosco poderão ser trazidos à colação e debatidos pelos seus visitantes.

Aqui fica, portanto, a primeira cereja...

sábado, 5 de março de 2005

Para que não se esqueça...



Para que não se esqueça...

... que os portugueses têm lugar cativo neste mundo da globalização.... que sabemos sonhar, sorrir e criar, reinventando todos os dias um mundo melhor, com arte (Ars), requinte, qualidade e liberdade.... que sabemos, em suma, viver...