domingo, 19 de julho de 2020

"O Espírito das Águas" - In Correio de Tabuaço - Edição n.º 2 de 1 de Abril de 2004


PINTURA E POESIA


O ESPÍRITO DAS ÁGUAS

A obra

Com o fim de sensibilizar todos para o problema da Água ao nível mundial, e pretendendo consciencializar o cidadão comum acerca do dever que lhe impende em defender aquele recurso precioso, a pintora Dad, natural de Lagos, e o poeta André Moa, natural de Tabuaço, movidos pela paixão comum de criação e de fundamentação da sua cidadania, visualizando uma nova forma de inspiração e influência recíproca nas suas obras, Pintura e Poesia, escolheram, desta feita, o tema da Água, elemento criador e vivificador, e a sua importância para o ser humano enquanto geradora de vida e de sentido.

Desse modo, foi lançado no passado dia 22 de Março, no Auditório da Biblioteca Municipal de Portalegre, o livro e o CD-ROM «O Espírito das Águas», que consubstanciam a reprodução das telas e dos poemas dos autores, sob influência e ode recíprocas, alusivos à água.

O referido projecto conta com o apoio e patrocínio de diversas entidades públicas e privadas, nomeadamente das Câmaras Municipais de Lagos, Portalegre, Tabuaço e Tavira, da EPAL e do Museu da Água da EPAL, da Junta de Freguesia do Estoril, da Universidade de Coimbra e da Sociedade Agrícola de Pias.

Ainda no que concerne ao livro, este encontra-se brilhantemente prefaciado pela Sra. Dra. Margarida Ruas, Directora do Museu da Água da EPAL e Presidente da APOREM, e pelo Sr. Eng.º Macário Correia, Presidente da Câmara Municipal de Tavira.

No que concerne ao apoio e patrocínio concedido pela Câmara Municipal de Tabuaço, de cuja vila é natural o poeta André Moa (pseudónimo do Sr. Dr. José Guilherme Macedo Fernandes), foi deliberado por unanimidade, em sessão daquele órgão, a aquisição de 350 exemplares do livro com vista à sua oferta, também no passado dia 22 de Março – Dia Mundial da Água – às escolas do concelho, encontrando-se em estudo outras formas de promoção da obra em Tabuaço e que serão oportunamente divulgadas.

Na sequência do lançamento do livro e do CD-ROM foi também inaugurada uma exposição das pinturas de Dad que ilustram o livro, e que irá estar patente na sala Polivalente da Biblioteca Municipal de Portalegre até ao próximo dia 21 de Abril. Tratando-se de uma exposição itinerante, que os autores pretendem que percorra diversos pontos do país, dado o seu carácter pedagógico, encontram-se já agendadas outras exposições, designadamente no Estoril (em Julho) e em Lagos (15 de Agosto a 15 de Setembro).



CD-ROM com música de compositor tabuacense

Como nota de curiosidade, a versão em CD-ROM da obra o Espírito das Águas, é acompanhada por uma banda sonora de um compositor e interprete também nascido em Tabuaço (Barcos) e desde novo radicado no Brasil. Referimo-nos a Norberto Macedo, conhecido compositor, exímio intérprete e consagrado professor de violão (viola clássica) no Brasil, e que tem vindo a formar muitos músicos brasileiros conhecidos.

Como concertista, Norberto Macedo é considerado um virtuoso intérprete capaz de impressionar com a sua técnica as mais exigentes plateias e de fazer nascer no íntimo de quem o escuta as mais subtis emoções.

A revista americana «Creative Guitar Internacional» publicou há alguns anos um artigo intitulado «Brazilian Macedo Performs, Composes» em que Norberto Macedo foi elogiado tanto pela sua técnica e interpretação, como pelas suas composições, considerando que “o talento de Norberto Macedo impressiona como um diamante lapidado a partir da melhor gema”. Posteriormente, a mesma revista divulgou em versão simplificada o seu choro «Recordações».



Dad – Uma obra plena de emoções

Dad nasceu no Algarve, em Lagos. Desde sempre desenhou e pintou, tendo frequentado o Atelier de diversos pintores amigos. Por eles foi incentivada a mostrar o seu trabalho, o que só aconteceu depois de muitos anos de dedicação à pintura e à cerâmica. Passou por fases diversas, mas as suas mostras públicas só se iniciaram no período em que a sua pintura tomou o caminho do neo-figurativo e da abstracção.

Tendo vivido em Londres, em Luanda e em Paris, onde ainda teve Atelier, foi absorvendo tonalidades, vivências e emoções que muito contribuíram para consolidar as formas, as manchas e as cores que expressa na sua pintura. “Tratando-se de uma pintura sensitiva, projecto de compromisso entre o visível e o invisível”, nas suas próprias palavras, a pintora tem procurado transmitir através de técnicas mistas, ora suaves ora profundas, o eco desses dois planos sempre presentes.

Os seus trabalhos encontram-se em colecções particulares um pouco por todo o mundo e está representada em colecções públicas e privadas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente no Museu da Água da EPAL, na APPLA, na EDM, na ROCHE, na Associação Viver Criança, na CEDEMA, na Associação dos Familiares e Amigos dos doentes de Ahlzeimer, etc.

A sua obra é referida nos livros editados pelo Museu da Água da EPAL, na edição de 1993 do livro «As Artes Plásticas em Portugal», na edição «Pintores Portugueses», de 2001, e participou até ao presente em cerca de 70 exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro.

André Moa – Um poeta do Douro

André Moa (pseudónimo literário de José Guilherme Macedo Fernandes, natural de Tabuaço - concelho românico do Alto Douro) cedo manifestou pendor para as artes, nomeadamente para a música e para a poesia. Licenciado em Direito, foi magistrado, advogado, professor, autarca, técnico superior e dirigente da Segurança Social, encontrando-se actualmente a exercer o cargo de Secretário-Geral Adjunto do MSST.

A sua obra literária distende-se pela poesia, pelo teatro, pelo conto, pelo romance e pelo ensaio. Consta da antologia «14 Poetas daqui e de agora» – 1973 (Angra do Heroísmo – Açores). Participou na Exposição Colectiva de poesia e pintura – 1974 (Angra do Heroísmo – Açores), na Exposição de pintura e poesia, com a pintora Dad, “Fusões e emoções” – 2002 (Centro Cultural de Lagos), na Exposição de poesia e pintura dos países de expressão portuguesa, “Sílabas e afectos da Lusofonia”- 2002 (no Centro Cultural Casapiano – Lisboa), e em Exposições de pintura e poesia, com a pintora Dad, em 2002, no Centro Cultural de Lagos, Centro Cultural Casapiano e na Póvoa de Varzim.

Alguns títulos da sua obra:

Cantata da paz em dó menor;
Poemacão;
Poemas indefinidos;
Do sentimento à razão;
P(ovo);
De grau 8;
Espaço disponível;
Liturgia das horas;
Nocturnos;
O pensamento das árvores;
Barqueiro do rio homem;
Noites de argila;
Medos e mitos;
Uma réstia de amor;
O Imperador;
A guerra do Garnel;
Felizmente a vida.

Livros de pintura e poesia, em parceria com a pintora Dad:

«Lorosa’e» e «O Espírito das Águas».


Gustavo Monteiro de Almeida

ALMEIDA, Gustavo Monteiro de Almeida, "O Espírito das Águas", in Correio de Tabuaço, Edição n.º 2, de 1 de Abril de 2004


Abel Botelho - 150 anos do seu nascimento (2005)

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António Ramalho, Retrato de Abel Acácio Botelho, 1889, Museu do Chiado
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Abel Acácio de Almeida Botelho
(n. em Tabuaço a 23 de Setembro de 1855 - f. em Buenos Aires a 24 de Abril de 1917)
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Abel Acácio de Almeida Botelho nasceu na vila de Tabuaço no ano de 1855, no seio de uma família de grandes proprietários rurais e miguelistas ferrenhos. Tendo-se iniciado na carreira militar, acabou por se tornar o expoente máximo do Naturalismo português, na esteira de Emile Zola.
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Na literatura, o seu primeiro livro foi Lira insubmissa, a que se seguiram O Barão de Lavos, abrindo o ciclo que intitulou de «Patologia Social» (pretendia criticar os vícios da sociedade), O Livro de Alda, Amanhã, Lázaros, Fatal dilema, Sem remédio, Próspero Fortuna e Amor creoulo (a sua última obra).
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Entre muitos outros motivos de interesse e curiosidades acerca da sua vida e obra, pode-se referir que presidiu à Comissão encarregue de aprovar a Bandeira da República em 1911.
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Aqui fica uma humilde homenagem a um grande homem de Portugal.
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.....................................................................................Gustavo de Almeida - Nota: Artigo Publicado neste blog em Março de 2005

Tesouros Artísticos de Tabuaço - Citânia de Longa - In Correio de Tabuaço - Edição 2 de 1 de Abril de 2004

 

 Tesouros Artísticos de Tabuaço

 

Citânia de Longa


Denominação:

Citânia de Longa.

Localização:

Monte do Muro – Freguesia de Longa. Alerta-se, contudo, para os acessos difíceis, uma vez que ainda se encontra em estudo a execução de uma estrada asfaltada que permita a sua visita pelos turistas e pela população do concelho em geral.

 

Classificação:

Imóvel de Interesse Público – pelo Decreto n.º 26-A/92, publicado no Diário da República n.º 126, de 1 de Junho de 1992.

 

Época de Construção:

Final da Idade do Bronze / Idade do Ferro.

Vista Geral

Cronologia Histórica Sumária:

Entre os anos de 1200 e 700 antes de Cristo – Provável época de edificação e ocupação do local.

 

Alta Idade Média – Provável época de abandono do local com fixação no Povoado da Encosta do Muro e na actual povoação de Longa, entre outros locais.

 

Ano de 1758 – Nas Memórias Paroquiais de Longa, redigidas neste ano, o pároco Manuel da Guerra Torres, abade de Longa, descreve o sítio da seguinte forma: "Perto da villa para a parte do Norte há hum monte bastante mente levantado, no alto do qual se vê ainda hoje um pedaço de muro, ou muralha fabricada de pedra miuda, e argamassa, ou bitume de admiravel segurança, tendo para a parte do Oriente huma porta de entrada, e no meyo do cabeço huma cadeira de pedra lavrada, que nos era ter servido de solio de julgador, ou magestade dominante, sendo o cabeço pelas outras partes inaccesivel. Há tradição, que foy assento, e fortaleza de Mouros. Chamasse o Muro o dito monte".

 

1 de Junho de 1992 – O Castro ou Citânia de Longa é classificado como Imóvel de Interesse Público, reconhecendo-se a sua grande importância arqueológica.

 

2.º Semestre de 1999 – A empresa Arquehoje, Lda., contratada pela Câmara Municipal de Tabuaço, e após autorização do Instituto Português de Arqueologia, procede à desmatação e limpeza da cobertura vegetal no  interior e na parte envolvente do sítio arqueológico, e ao restauro e beneficiação da muralha exterior, através da sobreposição horizontal das lajes tombadas, separadas das estruturas in situ pela utilização de redes de arame zincado plastificadas a verde. São ainda colocados painéis explicativos e placas de sinalização.

 

Porta das muralhas exteriores

Tipologia

Povoado fortificado, megalítico, com planta longitudinal e algo irregular, que terá tido função militar e residencial.

 

A entrada principal, voltada a Nordeste, encontra-se protegida por uma forte muralha, de contornos arredondados e faces exteriores inclinadas, diminuindo de espessura da base para o topo, com sensivelmente 250 metros de comprimento e cerca de 4 metros de largura, em média, terminando junto à parte mais inacessível e escarpada do monte do Muro, que acaba por rodear e proteger o resto do cume.

 

Mais para o interior, e adaptando-se à plataforma superior da elevação, são visíveis os vestígios de uma segunda linha de muralha de menores proporções, e que contornará o primitivo núcleo habitacional, terminando a Sudoeste, ao lado de uma escarpa quase inacessível. Significativo número de mós em granito, normalmente ovaladas, terão sido reutilizadas para a execução da muralha exterior.

 

Futuras escavações arqueológicas permitirão desvendar toda a parte edificada, actualmente coberta pela sedimentação de séculos, e trarão à luz do dia e à compreensão das gerações actuais e futuras as vivências de antigamente.

  

Gustavo de Almeida


 ALMEIDA, Gustavo Monteiro de,Tesouros Artísticos de Tabuaço – Citânia de Longa  - In «Correio de Tabuaço», pág. 12, Tabuaço, Edição n.º 2, de 1 de Abril de 2004


Tesouros Artísticos de Tabuaço - Igreja Matriz de Barcos - In Correio de Tabuaço - Edição 1 de 15 de Março de 2004


Tesouros Artísticos de Tabuaço


Igreja Matriz de Barcos

Denominação:
Igreja Matriz de Barcos / Igreja de Nossa Senhora da Assunção.

Localização:
Povoação de Barcos – Freguesia de Barcos.

Classificação:
Monumento Nacional – pelo Decreto n.º 8175, publicado no Diário do Governo n.º 110, de 2 de Junho de 1922.

Época de Construção:
Sécs. XIII, XIV, XVII e XVIII.

Portal principal, românico

Cronologia Histórica Sumária:
Sécs. XIII / XIV – Edificação do templo, sede de colegiada, no meio da vila de Barcos, com consequente mudança da função paroquial da antiquíssima igreja da Senhora do Sabroso, que era a matriz, para este novo templo (a igreja da Senhora do Sabroso continuou, no entanto, a servir de igreja paroquial a Pinheiros, Carrazedo e Santa Leocádia, até ao séc. XVIII).

Finais do séc. XVII – Execução da talha dos altares e do arco cruzeiro.

Inícios do séc. XVIII – Feitura do Púlpito, em madeira de castanho com embutidos em bronze.

1.ª metade do séc. XVIII – Execução e pintura dos caixotões dos tectos da capela-mor, da nave e da sacristia, e pintura dos belos grotescos que adornam as faces interiores do arco cruzeiro.

1720 – Obras de beneficiação do arco triunfal conforme data epigrafada.

Cerca de 1764 – Alterações no corpo da capela-mor, designadamente através da abertura de novos janelões.

Cerca de 1870 – Destruição do tecto de caixotões da nave.

1992 – Construção de novo tecto na nave, em madeira, pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN).

1998 – Diversas obras de recuperação, pela DGEMN, designadamente a reconstrução do coro-alto, em estrutura metálica, e do pavimento e tecto, em madeira.

Aspecto geral da Capela-mor, seu altar em estilo 
barroco nacional e tecto de caixotões

Tipologia
Templo de arquitectura românica, gótica, maneirista e barroca, com planta longitudinal composta por nave única, capela-mor rectangular, mais estreita e baixa, e sacristia adossada ao lado Norte. Possui cornija sustentada por cachorros com decoração românica. O portal principal, que se rasga no alçado voltado a Oeste, possui arco de volta perfeita, com tímpano cego, e assenta em duplos colunelos laterais, cujos capitéis são decorados com figuras satíricas. As impostas são ornamentadas com motivos fitomórficos, tal como as arquivoltas. A arquivolta exterior encontra-se decorada com pequenas esferas. Os pórticos laterais, góticos, apresentam arco apontado.

No seu interior guarda retábulos e arco cruzeiro em talha dourada do denominado estilo barroco nacional. Conserva excelentes pinturas representando cenas da vida da Virgem e do Senhor no tecto de caixotões da capela-mor, bem como frescos pintados nos muros posteriores dos altares. Dois arcossólios góticos com arco apontado rasgam-se nos muros interiores da nave.

Trata-se de um imóvel sobre o qual ainda recaem muitas incertezas cronológicas quanto à época exacta de edificação, embora a maioria dos autores filie a sua arquitectura de base no estilo românico.

Nas palavras do Reverendo Padre Ismael Vilela (pároco de Barcos entre 1909 e 1938), retiradas da sua obra «A Collegiada de Barcos», de 1924, “a Egreja de Barcos, como as similares romanicas, é severa como uma sentença bíblica, recatada como um cenobita; é como a impenetrabilidade d’um dogma, embora se insinue como uma carícia evangelica (…); mas é um monumento venerando que athesta, com a sua perfeição architectonica, a belleza de um estylo e a religiosidade d’um povo!”.

 Gustavo de Almeida



ALMEIDA, Gustavo Monteiro de, Tesouros Artísticos de Tabuaço - Igreja Matriz de Barcos - In «Correio de Tabuaço», pág. 12, Tabuaço, Edição n.º 1, de 15 de Março de 2004

Tesouros Artísticos de Tabuaço - Igreja de S. Pedro das Águias (o Velho) - In Correio de Tabuaço - Edição 0 de 1 de Março de 2004


Tesouros Artísticos de Tabuaço

Com esta primeira edição do Correio de Tabuaço iniciamos uma rubrica referente ao património cultural de Tabuaço. Pretende-se, através da mesma, dar a conhecer aos leitores, em geral, e a todos os Tabuacenses, em especial, o valioso património cultural do concelho, classificado ou não, de uma forma simples e objectiva.

Igreja São Pedro das Águias



Denominação:
Igreja de São Pedro das Águias (o Velho).

Localização:
Lugar de São Pedro das Águias – Freguesia de Granjinha

Classificação:
Imóvel de Interesse Público – Por Decreto n.º 39175 – Diário do Governo n.º 77, de 17 de Abril de 1955. Zona Especial de Protecção – Diário do Governo n.º 132, de 4 de Junho de 1954.

Época de Construção:
Sécs. XI / XII / Inícios do séc. XIII.

Cronologia Histórica Sumária:
Sécs. X / XI – Segundo tradição antiga, terá sido fundada pelos ascendentes dos Távora, D. Tedon e D. Rausendo, que mandaram construir a igreja para albergar pequena comunidade de monges beneditinos.

Cerca de 1117 – Escritura ou prazo de confirmação ligado à fundação do convento entre os frades beneditinos e D. Pedro Ramires e D. João Ramires, padroeiros do mosteiro, e descendentes de D. Rausendo, mudando o Mosteiro para o sítio actual, em Távora.

Séc. XII – Provável reconstrução e melhoramentos.

1170 – O Mosteiro novo aparece já referido como pertencendo à Ordem de Cister.

Entre os sécs. XII e XIX – Os monges bernardos de São Pedro das Águias mantêm o templo primitivo, sendo organizados, com regularidade, procissões e outros actos cultuais.

1834 – Com a extinção das ordens religiosas o edifício é votado ao abandono, acabando por cair em ruína.

Entre 1953 e 1955 – O templo é restaurado e recuperado pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, com grande fidedignidade, uma vez que a maior parte das peças originais encontravam-se entre as paredes muito arruinadas.



Tipologia
Templo de arquitectura românica, de pequena dimensão, com planta longitudinal, orientada, composta por nave única e capela-mor rectangular. Possui cornija sustentada por cachorros. Os portais principal e axial possuem arcos de volta inteira, com arquivoltas assentes em colunelos capitelizados e tímpanos decorados, que se distinguem pela profusa ornamentação figurativa e simbólica, combinando motivos geométricos, fitomórficos, zoomórficos e antropomórficos, a que se junta um Agnus Dei e uma Cruz envolta em laçaria. Uma inscrição em latim no fecho do arco do portal axial pede ao “Deus dos Exércitos” que guarde a entrada e saída do templo. É considerada uma das jóias da arquitectura românica em Portugal, apesar das lendas e incertezas cronológicas que pairam sobre a mesma.

Gustavo de Almeida

ALMEIDA, Gustavo Monteiro de, Tesouros Artísticos de Tabuaço - Igreja de S. Pedro das Águias (o Velho) - In «Correio de Tabuaço», pág. 12, Tabuaço, Edição n.º 0, de 1 de Março de 2004


Tabuaço - Um concelho para o séc. XXI - In Correio de Tabuaço - Edição 0 de 1 de Março de 2004


Tabuaço – Um concelho para o século XXI

É com alegria e intenso prazer que escrevemos estas linhas, neste novo jornal do concelho de Tabuaço, o Correio de Tabuaço, e desejamos-lhe vida longa e profícua, levando por toda a parte a voz deste município e de tudo o que de bom os Tabuacenses sabem fazer.

Que sirva os seus objectivos com rigor e com verdade, ajudando à construção de um concelho forte, equilibrado, assente na fraternidade, liberdade, criatividade e respeito pelo ambiente, cultura, turismo e desenvolvimento sustentado.

Se olharmos para trás, para tudo aquilo que a vila de Tabuaço e as suas freguesias já passaram, pode-se com toda a certeza esboçar um sorriso. No entanto, tal não significa que não tenha havido sofrimento por parte dos seus habitantes, porque o houve.

Nos dias de hoje, apesar de muitos dos seus filhos se encontrarem fora do concelho a residir, pode-se dizer que a história trouxe maior conforto e comodidades, bem como novas necessidades e apreensões.

No entanto, desde há cerca de duzentos anos que as nossas freguesias têm vindo a ser esvaziadas de gente que, procurando melhorar as suas condições de vida, calcorreiam o mundo, fora das nossas fronteiras, fixando residência no Brasil, nos Estados Unidos, em muitos dos países da Europa Ocidental (da qual fazemos parte ainda que não nos queiramos lembrar), ou, muito simplesmente, cá dentro de Portugal em cidades como Viseu, Lamego, Porto, Lisboa, Coimbra, ou até no Algarve.

No momento actual a população residente do concelho de Tabuaço ronda os 7 mil habitantes, enquanto que fora do mesmo deverão residir cerca de 30 mil Tabuacenses e seus descendentes. Que bom que seria se estes se lembrassem de voltar para as suas terras, tal como têm sonhado, na certeza de que serão acolhidos de braços abertos pelos seus conterrâneos.

Ora, tal tem sucedido com alguns, que ansiavam por isso desde há muito. No entanto, a grande maioria se calhar por vezes até se esquece de que nasceu em Tabuaço, ou em alguma das suas freguesias e lugares. Esperemos que não.

No retorno às suas origens, anualmente, por ocasião das festas e romarias populares lá vêm cumprir promessas e comparar a sua terra natal com a terra da sua residência.

Mas, será que se lembram efectivamente de que podem e devem fazer algo mais pelas suas terras além de vir apenas gastar dinheiro nas festas e no fogo de artifício? Dizemos isto, apesar de sabermos que as festas são importantes para cada uma das freguesias e de que o fogo de artifício, desde que executado em condições de segurança, é motivo de brio para os nossos bailes e arraiais, mas ficamos, por vezes, com a sensação de que realmente não sabem como ajudar a sua freguesia.

Mas, voltamos a repetir, podem e devem efectivamente fazer algo mais pelas suas terras, em termos de desenvolvimento local.

Claro que existem excepções, e claro que Tabuaço sofre dos mesmos males que todos os concelhos do interior do país.

No entanto, Tabuaço e as suas freguesias têm diversos trunfos para poderem vingar neste novo milénio:

- A sua população, que detém uma forma de estar e de ser muito peculiar e própria, capaz dos maiores altruísmos, actos de fraternidade e deveres de cidadania (apesar de por vezes esquecidos).

- Terras riquíssimas que espelham uma grande diversidade de solos, excelentes para o vinho do Porto e os vinhos mesa do Douro e da Beira, a oliveira, a cortiça, o sabugueiro, as árvores de fruto, os produtos hortícolas, entre muitos outros produtos da terra.

- Uma paisagem natural ímpar e diversificada, capaz de fazer regalar os olhos a qualquer turista que passe por cá, e que volta a passar depois de ter fixado algum pormenor da natureza que lhe mexeu com a alma.

- Um património cultural de respeito, em grande quantidade, qualidade e das mais diversas tipologias, calculado em mais de 400 imóveis e sítios arqueológicos, entre outros (veja-se a classificação do Alto Douro Vinhateiro como património Mundial, pela UNESCO, e do qual cerca de 1/3 do território tabuacense faz parte).

- Riquezas minerais, já exploradas anteriormente em períodos da história recente.

- Entre muitos outros atractivos.

Para que Tabuaço possa retirar proveito de todas estas potencialidades é necessário que todos tenham consciência de que o desenvolvimento não passa apenas pelas mãos das autarquias (câmara municipal e juntas de freguesia) que muito têm feito apesar dos, por vezes, parcos meios, mas também pelas mãos de cada um, de acordo com as suas potencialidades e capacidades.

Cabe pois a todos, sem exclusão, a tarefa de construir um futuro bom e melhor, em conjunto com a Câmara Municipal e Juntas de Freguesias, e através do associativismo, no respeito pelos direitos de cada um, e com vista ao desenvolvimento do bem comum.

Podem vir dizer que dá muito trabalho, que não sabem como fazer as coisas, mas não podem dizer que não está ao seu alcance a possibilidade de se informarem e de se juntarem e reunirem com vista ao desenvolvimento de alguma ideia que surja.

Tem que existir vontade de mudar, ainda que custe muito para alguns que apenas estão habituados a falar mal e a criticar, e tem de haver vontade, para aqueles que já fazem algo, de poderem fazer ainda mais e melhor.

Todos somos responsáveis por isso e todos o merecemos, tal como os nossos herdeiros merecem um futuro melhor, sempre melhor.

Brindamos, pois, ao Correio de Tabuaço, e ansiamos para que seja um motor de desenvolvimento local, com brio, rigor e profissionalismo, tal como Tabuaço necessita.

Gustavo de Almeida

ALMEIDA, Gustavo Monteiro de, Tabuaço - Um concelho para o séc. XXI - In «Correio de Tabuaço», pág. 9, Tabuaço, Edição n.º 0, de 1 de Março de 2004