domingo, 19 de julho de 2020

Tabuaço - Um concelho para o séc. XXI - In Correio de Tabuaço - Edição 0 de 1 de Março de 2004


Tabuaço – Um concelho para o século XXI

É com alegria e intenso prazer que escrevemos estas linhas, neste novo jornal do concelho de Tabuaço, o Correio de Tabuaço, e desejamos-lhe vida longa e profícua, levando por toda a parte a voz deste município e de tudo o que de bom os Tabuacenses sabem fazer.

Que sirva os seus objectivos com rigor e com verdade, ajudando à construção de um concelho forte, equilibrado, assente na fraternidade, liberdade, criatividade e respeito pelo ambiente, cultura, turismo e desenvolvimento sustentado.

Se olharmos para trás, para tudo aquilo que a vila de Tabuaço e as suas freguesias já passaram, pode-se com toda a certeza esboçar um sorriso. No entanto, tal não significa que não tenha havido sofrimento por parte dos seus habitantes, porque o houve.

Nos dias de hoje, apesar de muitos dos seus filhos se encontrarem fora do concelho a residir, pode-se dizer que a história trouxe maior conforto e comodidades, bem como novas necessidades e apreensões.

No entanto, desde há cerca de duzentos anos que as nossas freguesias têm vindo a ser esvaziadas de gente que, procurando melhorar as suas condições de vida, calcorreiam o mundo, fora das nossas fronteiras, fixando residência no Brasil, nos Estados Unidos, em muitos dos países da Europa Ocidental (da qual fazemos parte ainda que não nos queiramos lembrar), ou, muito simplesmente, cá dentro de Portugal em cidades como Viseu, Lamego, Porto, Lisboa, Coimbra, ou até no Algarve.

No momento actual a população residente do concelho de Tabuaço ronda os 7 mil habitantes, enquanto que fora do mesmo deverão residir cerca de 30 mil Tabuacenses e seus descendentes. Que bom que seria se estes se lembrassem de voltar para as suas terras, tal como têm sonhado, na certeza de que serão acolhidos de braços abertos pelos seus conterrâneos.

Ora, tal tem sucedido com alguns, que ansiavam por isso desde há muito. No entanto, a grande maioria se calhar por vezes até se esquece de que nasceu em Tabuaço, ou em alguma das suas freguesias e lugares. Esperemos que não.

No retorno às suas origens, anualmente, por ocasião das festas e romarias populares lá vêm cumprir promessas e comparar a sua terra natal com a terra da sua residência.

Mas, será que se lembram efectivamente de que podem e devem fazer algo mais pelas suas terras além de vir apenas gastar dinheiro nas festas e no fogo de artifício? Dizemos isto, apesar de sabermos que as festas são importantes para cada uma das freguesias e de que o fogo de artifício, desde que executado em condições de segurança, é motivo de brio para os nossos bailes e arraiais, mas ficamos, por vezes, com a sensação de que realmente não sabem como ajudar a sua freguesia.

Mas, voltamos a repetir, podem e devem efectivamente fazer algo mais pelas suas terras, em termos de desenvolvimento local.

Claro que existem excepções, e claro que Tabuaço sofre dos mesmos males que todos os concelhos do interior do país.

No entanto, Tabuaço e as suas freguesias têm diversos trunfos para poderem vingar neste novo milénio:

- A sua população, que detém uma forma de estar e de ser muito peculiar e própria, capaz dos maiores altruísmos, actos de fraternidade e deveres de cidadania (apesar de por vezes esquecidos).

- Terras riquíssimas que espelham uma grande diversidade de solos, excelentes para o vinho do Porto e os vinhos mesa do Douro e da Beira, a oliveira, a cortiça, o sabugueiro, as árvores de fruto, os produtos hortícolas, entre muitos outros produtos da terra.

- Uma paisagem natural ímpar e diversificada, capaz de fazer regalar os olhos a qualquer turista que passe por cá, e que volta a passar depois de ter fixado algum pormenor da natureza que lhe mexeu com a alma.

- Um património cultural de respeito, em grande quantidade, qualidade e das mais diversas tipologias, calculado em mais de 400 imóveis e sítios arqueológicos, entre outros (veja-se a classificação do Alto Douro Vinhateiro como património Mundial, pela UNESCO, e do qual cerca de 1/3 do território tabuacense faz parte).

- Riquezas minerais, já exploradas anteriormente em períodos da história recente.

- Entre muitos outros atractivos.

Para que Tabuaço possa retirar proveito de todas estas potencialidades é necessário que todos tenham consciência de que o desenvolvimento não passa apenas pelas mãos das autarquias (câmara municipal e juntas de freguesia) que muito têm feito apesar dos, por vezes, parcos meios, mas também pelas mãos de cada um, de acordo com as suas potencialidades e capacidades.

Cabe pois a todos, sem exclusão, a tarefa de construir um futuro bom e melhor, em conjunto com a Câmara Municipal e Juntas de Freguesias, e através do associativismo, no respeito pelos direitos de cada um, e com vista ao desenvolvimento do bem comum.

Podem vir dizer que dá muito trabalho, que não sabem como fazer as coisas, mas não podem dizer que não está ao seu alcance a possibilidade de se informarem e de se juntarem e reunirem com vista ao desenvolvimento de alguma ideia que surja.

Tem que existir vontade de mudar, ainda que custe muito para alguns que apenas estão habituados a falar mal e a criticar, e tem de haver vontade, para aqueles que já fazem algo, de poderem fazer ainda mais e melhor.

Todos somos responsáveis por isso e todos o merecemos, tal como os nossos herdeiros merecem um futuro melhor, sempre melhor.

Brindamos, pois, ao Correio de Tabuaço, e ansiamos para que seja um motor de desenvolvimento local, com brio, rigor e profissionalismo, tal como Tabuaço necessita.

Gustavo de Almeida

ALMEIDA, Gustavo Monteiro de, Tabuaço - Um concelho para o séc. XXI - In «Correio de Tabuaço», pág. 9, Tabuaço, Edição n.º 0, de 1 de Março de 2004

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