domingo, 2 de agosto de 2020

A Senhora da Saúde em Longa




A Senhora da Saúde em Longa
Reza a história que, no início do séc. XVI, uma epidemia assolou as ruas de Lisboa, afectando em especial a classe militar. Temendo a terrível doença, os artilheiros da Corte invocaram o auxílio do mártir S. Sebastião, soldado romano em vida e invocado como advogado contra a peste, a fome e a guerra.
Ouvida a prece, os artilheiros fundaram em 1505 a Irmandade de S. Sebastião e ergueram a actual ermida que alberga o santo, junto ao postigo da Mouraria em Lisboa. Durante anos, foi essa classe militar que manteve viva a devoção a S. Sebastião, através de cerimónias financiadas com os descontos obrigatórios que os próprios sofriam nos seus salários.
Em 1569, uma segunda peste assolou Lisboa. Faleceram entre 50 a 60 mil pessoas numa cidade com cerca de 120 mil habitantes. Consta que chegaram a fazer-se mais de 600 enterros por dia. As cortes de D. Sebastião refugiaram-se em Sintra e fecharam-se as portas da cidade de Lisboa.
No terror da epidemia, povo e nobreza juntaram preces e pediram o auxílio da Virgem Santíssima, mandando esculpir uma imagem que foi benzida com o título de Nossa Senhora da Saúde e que foi exposta para adoração na ermida do Colégio de Jesus dos Meninos Órfãos. Fundou-se então a Irmandade com o mesmo nome. Em 1570, o senado da Câmara de Lisboa mandou celebrar, no dia 20 de Abril, a primeira procissão em honra de Nossa Senhora da Saúde. Dois anos depois deliberou-se repetir anualmente as cerimónias.
Em 1596, a Igreja converteu-se na paróquia de S. Sebastião – posteriormente transferida para a Igreja do Socorro – para onde, em 1662, foi transferida a imagem da Senhora da Saúde. As duas Irmandades uniram-se numa só tendo como Provedor o Rei. Não tardou a que o culto se estendesse a outros locais do país e a Longa, por exemplo, onde até ao ano de 1930 a Senhora da Saúde foi venerada na capela do Mártir São Sebastião.
Nesse mesmo ano foi inaugurado em Longa um novo templo dedicado a Nossa Senhora da Saúde, a expensas do povo e de beneméritos, como por exemplo o Sr. Boaventura José de Carvalho, cujo nome ficou guardado para a posterioridade com a atribuição do seu nome a uma rua da freguesia, e os falecidos pais da Sra. Natália Gomes Leal, tendo estes últimos cedido o terreno onde o santuário ficou implantado e custeado a deslocação da capelinha de Nossa Senhora da Guia.
O projecto do templo de Nossa Senhora da Saúde foi gizado sob o risco do Mestre José António de Sousa e seu irmão Luís de Sousa, mestres canteiros de Longa, naturais de Barcos, tendo as obras sido seguidas de perto por outra figura de vulto do Concelho de Tabuaço – o falecido Sr. Manuel Vicente da Cruz, então Presidente da Junta de Freguesia de Longa, e que foi Presidente da Câmara Municipal de Tabuaço entre 27.01.1949 e 24.09.1953.
Trata-se de um templo revivalista, de traça neoclássica, contendo no seu interior o coro-alto, o púlpito e a capela-mor trabalhados no mesmo estilo em madeira de castanho, obra de mestres portuenses. O altar-mor é imponente, de grandes dimensões, com colunas toscanas que ladeiam o trono onde se situa a imagem de vulto de Nossa Senhora da Saúde, em barro policromo novecentista, e que veio substituir a imagem antiga, da primeira metade do séc. XVIII, que se encontra guardada na Casa do Abade.
Do alto deste monte, onde se encontra implantado o Santuário de Nossa Senhora da Saúde, vislumbra-se uma das mais belas paisagens do concelho de Tabuaço, com o denominado monte do Muro a Norte, a povoação quase milenar de Longa e os vales dos rios Tedo e Tedinho a Oeste, Castelo e Nagosa a Sudoeste e a Sul e Arcos a Este.

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