quinta-feira, 31 de março de 2005

O Triunfo do Inverno


O Triunfo do Inverno

«...La sierra de Sintra viene
Que estaba triste del frio,

Gozar del triunfo mio,
Que á su gracia conviene.
Es la sierra mas hermosa
Que yo siento en esta vida:
Es como dama polida,
Bravá, dulce y graciosa,
Namorada y engrandecida.

Bosque de cosas reales,
Marinera y pescadora,
Montera y gran cazadora,
Reina de los animales.
Muy esquiva y alterosa,
Balisa de navegantes,
Sierra que á sus caminantes
No cansa ninguna cosa.

Refrigerio en los calores,
De saludades minero,
Contemplacion de amores,
La senora á que yo mas quiero,
Y con quien ando damores.

[…]

Hum filho de hum Rei passado
Dos gentios Portugueses
Tenho eu muito guardado,
Ha mil annos e tres meses
Per hum magico encantado.
E este tem hum jardim
Do paraiso terreal,
Que Salomão mandou aqui
A hum Rei de Portugal;
E tem-no seu filho ali.

Este será bom presente,
E eu irei por elle asinha,
Porque he pera a Rainha
Justo e conveniente.
O qual Principe virá
Em pessoa aqui com elle,
Que sabe as virtudes delle,
E como e quem o trouxe ca,
E quando se monta nelle.

E virá acompanhado
Dessas cachopas sintrans,
E de mancebos do gado,
Louçãos e ellas lonçans,
Com seu cantar costumado...»
.
Gil Vicente, O Triunfo do Inverno, teatro, 1529
.
Provavelmente poucos conhecerão este texto daquele que é considerado o pai do teatro português. Trata-se de um excerto bastante apetecível, aliás, para quem, como eu, adore o Glorious Eden que é Sintra, e que aqui fica vertido em homenagem ao seu autor e àquele paraíso terrestre.

9 comentários:

Anónimo disse...

«o triunfo do inverno» de Gil Vicente é, apenas, um título que encima um texto que reflete o pensamento do autor num determinado momento;
porque não, uma mão cheia de folhas em branco, emparedadas numas capas de cartão, sem título, em que tu, eu, quem quer que seja reflita um olhar sob a forma de um sentimento em tons de tango?

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Porque não?

Seria interessante, caminhar por esse caminho verdejante, perdido no meio da serra de Sintra, e, de repente, dar de caras com um casal dançando um lânguido tango, apenas acompanhado por um violino e por acordeão que vão soltando as quentes melodias do enlace. Seria deveras exultante e actual. No entanto, não deixaria de ser, de uma forma muito relativa e todos os dias reinventada, a lembrança de quantos casais apaixonados têm procurado, ao longo dos séculos, o refúgio do «Monte da Lua» para se perderem, a par e passo, em si mesmos…

AnaP disse...

Olá, meu querido!
Tantas vezes que passeei por Sintra e nunca passeei por lá contigo. Adorei o texto e a imagem. Um beijinho grande!

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

È verdade...

Mas..., não seja por isso.

Da próxima vez que cá vieres, iremos passear e (re)decobrir pormenores, locais, paisagens do Monte da Lua e da vetusta Cintra

Anónimo disse...

Eu que o diga, que me fartei de namorar na Serra da Lua!

DAD

Anónimo disse...

A propósito do texto de hoje «um Papa Português», é ineressante ver como também na Fé, tal como no futebol, na música ou na literatura nós portrugueses precisamos sempre de um nome luso como que para recordar o que valemos; pelo que me toca, permitam-me o Papa, pelo que representa, não precisa de nacionalidade; basta que seja um Homem (porque não uma Mulher) que ame e se não coiba de demonstrar esse sentimento.Meu querido Gustavo, não foi por o Futre ser portugês, ou porque a personalidade do ano de 2004 ser o Mourinho, também ele, nascido por estas bandas do mundo que faz de Portugal e dos Portugueses alguma coisa de diferente do que realmente somos: pequeninos,saudosistas, invejosos e sobretudo, sobranceiros.

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Dad, sua marota, a passear e a namorar pelos verdes e floridos caminhos de Cintra... Faz muito bem, sempre.

Miguel, Miguel, o facto de trazer à memória a existência de um Papa que teve nacionalidade portuguesa não significa que foi mais ou menos importante do que qualquer outro papa. Efectivamente, não interessa a nacionalidade, mas sim essa capacidade de, enquanto chefe espiritual, poder abarcar com o seu amor todos nós, e de sugerir, instigar a melhoria mundial da nossa sociedade, quer em termos espirituais, quer em termos de bem-estar social, do bem comum.

Quanto aos portugueses, ora..., não os tornemos ainda mais pequeninos, pois não o são.

São como qualquer povo, necessitados de amor, de evolução, de crescimento.

Certo é que, muitas vezes, para um povo avançar, é necessário que não se esqueça que têm dado grandes nomes ao mundo, e que, afinal, ainda sabe inscrever alguma coisa na sua existência.

E não é uma questão de simples saudosismo, que repugnarei logo, mais sim uma questão de memória colectiva.

Não te parece?

Anónimo disse...

What a great site » »

Anónimo disse...

Li os comentarios e nao pude deixar de comentar tambem relativamente ao facto de sermos ou nao pequenos. E verdade que em termos de territorio somos um Pais pequeno mas tambem o e a Suiça por exemplo, mas em termos economicos fica muito mais bem posicionada do que nos. O facto e que nao devemos ser pequenos como pessoas, pois e essa a maior qualidade do portugues e que muitas vezes esquecemos entregues ao quotidiano mediocre. Sempre Portugal deu grandes Homens ao mundo mas e na sua uniao que os portugueses costumam mostrar as suas maiores qualidades. Pena e que raramente estamos unidos.