
Citânia de Longa
A fundação da Igreja de São Pelágio de Longa poderá ter ocorrido no séc. X, em homenagem ao menino mártir S. Pelágio (martirizado em Córdova). Porém, pelo facto de se encontrar em terras do Ermamento, deverá ter sofrido todas as vicissitudes das guerras entre Cristãos e Mouros até que, finalmente, em finais do séc. XI teve a sua situação estabilizada e, provavelmente, restabelecida a sua paróquia.
Do ano de 1268 chegou-nos a alusão à apresentação in solidum na vigararia de Longa do Pe. Lourenço Martins pelos Cónegos do Cabido da Sé Lamecense, monges de São Pedro das Águias, herdeiros e padroeiros, tendo aquele sido posteriormente instituído e confirmado pelo bispo de Lamego D. Pedro Anes.

Capela de Santo Isidoro
Já com o arrolamento paroquial do reino, de 1321, no reinado de D. Dinis, a paróquia de São Paio de Longa terá sido taxada em 30 libras.
Segundo alguns autores, Longa terá tido foral outorgado em 15 de Fevereiro de 1514 por D. Manuel I, o que poderia ser, em princípio, corroborado pela própria grafia do registo oficial, apesar de nesse documento, nas partes referentes à Pena d’Arma, e outros itens, se remeter para o extensíssimo Foral de Lousã em detrimento do Foral de Lamego. No entanto, tal foral referir-se-á, verdadeiramente, à vila de Loriga, actualmente no concelho de Seia.

Solar dos Ferreira Cardoso
No Censual da Sé de Lamego, da 1.ª metade do séc. XVI, Longa aparece referida como Abadia, sendo o seu abade da apresentação do Cabido da Sé de Lamego em alternativa com os monges do Mosteiro de São Pedro das Águias, seguida de confirmação do Senhor Bispo. Mais se refere que a Visitação era paga através do antigo costume do Jantar.
Em 1527, o Cadastro do Reino alude ao concelho de Longa, então constituído por 50 fogos habitacionais.
Posteriormente, no ano de 1708, o Pe. Carvalho da Costa, na sua Corografia Portugueza, escreveu que a vila de Longa, pertencente à Coroa, era então composta por 90 fogos habitacionais, sendo o seu governo civil, judicial e militar exercido por um Juiz Ordinário, dois Vereadores e um Procurador do Concelho, que compunham o seu Senado, existindo, ainda, um Escrivão da Câmara, um Meirinho e uma Companhia de Ordenança (com respectivo Capitão). Mais referiu que a igreja paroquial, com a invocação de São Pelágio, possuía a categoria de Abadia de colação ordinária, apresentada alternativamente pelo Cabido da Sé de Lamego e pelos Frades Bernardos [de São Pedro das Águias].

Igreja Matriz de Longa
Devido às querelas em torno do seu padroado, por força da alternativa da sua apresentação, desde o séc. XV e até meados do Séc. XVIII, muitos processos judiciais terão tido lugar entre o Cabido da Sé de Lamego e os religiosos do Mosteiro de São Pedro das Águias da Ordem de Cister, apenas estabilizando nas décadas de 1740/1750, a favor dos Cónegos de Lamego.
Alguns desses dados foram corroborados pelo Abade de Longa, Pe. Manuel da Guerra Torres, nas respectivas Memórias Paroquiais de 1758, tendo aquele referido, a título de curiosidade, o Castelo de Longa, numa época em que a sociedade começava a despertar para a arqueologia e história das nações.

Casa do Abade
O concelho de Longa foi extinto em 6 de Novembro de 1836, passando a freguesia para o concelho de S. Cosmado, extinto por sua vez a 24 de Outubro de 1855, data em que foi anexada ao concelho de Tabuaço.
Tal como as restantes freguesias do concelho de Tabuaço, Longa possui uma grande riqueza ambiental, paisagística, histórica e cultural para gáudio dos seus visitantes.

Troço de calçada romana
No que concerne à arqueologia e como não poderia deixar de ser, há a referir a Citânia de Longa, o Povoado Calcolítico do Grail, o Povoado da Encosta do Muro e a Mesinha do Redoiro, os vestígios de estruturas alti-medievas do Monte Rei, os diversos troços de vias romanas/medievais que ligam a povoação à Citânia, à Granja do Tedo, a Arcos e a Nagosa, um Lagar medieval no Talefre, a Anta (ou Dólmen) do Alto da Quinta, diversas fossetes nos lugares da Lapinha e de Santo Isidoro, algumas Sistas no lugar do Castelo, um fragmento de sarcófago medieval que terá sido aproveitado na edificação de uma casa no Largo do Eirô, e o Menir da Chã, recentemente descoberto.

Menir da Chã
Relembrando o antigo concelho é possível referir o Pelourinho de Longa, reconstruído recentemente, no Largo da Praça, para se juntar à primitiva Cadeia e à antiga Casa da Câmara, bem como ao antigo Tribunal e Cadeia nova de Longa, sito no Largo do Eirô, cujo edifício desempenha actualmente a função de sede da Junta de Freguesia.

Interior da Igreja Matriz
Relativamente ao património religioso o destaque vai para a Igreja Matriz de Longa, templo de origem medieval cuja decoração e arquitectura actual nos remete para os estilos Maneirista, Barroco Joanino e Neoclássico. No seu interior, demonstrativo do excelente efeito cenográfico provocado pela conjugação de elementos maneiristas, barrocos e rocailles, que tornam este templo significativamente importante como exemplo de estudo da evolução do barroco regional, destacam-se as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido com 109 caixotões pintados com motivos hagiológicos e cenas da vida da Virgem e de Cristo, complementados por um precioso conjunto de talha joanina dourada e policroma, composto pelo altar-mor, pelos altares colaterais e laterais e pela talha que cobre o arco cruzeiro.

Senhora da Saúde
Existe ainda um Santuário dedicado a Nossa Senhora da Saúde, cuja capela foi inaugurada em 1930, a Capelinha da Senhora da Guia, um pouco mais antiga mas reconstruída na mesma época, não longe do lugar original, a Capela de São Miguel, da 2.ª metade do séc. XVIII, a Capela de Santo Isidoro, do séc. XVII, a Capela de São Sebastião, dos sécs. XVIII e XIX, e a Capela de Santo António, com elementos de finais do séc. XVI, além do Calvário, já sem a sua cruz, e o Cruzeiro do Alto da Quinta.

Cruzeiro do Alto da Quinta
Capela de São Miguel
No que concerne à arquitectura civil residencial será de referir, entre outros inúmeros imóveis construídos ao longo dos séculos, a Casa do Abade, com janela manuelina, o Solar dos Ferreira Cardoso, seiscentista e setecentista, ou a romântica Casa dos Leões e o Palacete da Rua de São Miguel, ambos do séc. XIX.

Pelourinho de Longa
A arquitectura civil de equipamento aparece representada através das Fontes da Rigueira, do Cimo de Vila, das Alminhas e do Fontanário da Praça, que ostenta a seu lado uma lápide com uma quadra em latim datada de 1835. Como marco comemorativo é possível referir o Cruzeiro dos Centenários de Longa, novecentista.
Longa, uma terra antiga com um passado histórico interessante onde o visitante se poderá demorar por muitas horas, calcorreando caminhos antigos, descobrindo cascatas e ribeiros, penedos esculpidos pelo vento e pela água, podendo observar uma águia a sobrevoar um monte, um javali ou uma raposa vindos de nenhures, bem como outros inúmeros pormenores notáveis da natureza envoltos pela ancienidade de um povo bem português.