terça-feira, 10 de maio de 2005

O poder do poeta


O poder do poeta
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Dêem um mundo perdido
A um poeta que sobre ele possa mandar
E de um dia para o outro, o mundo esquecido
Será jardim, lago de calma, de encantar
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O poeta cobrirá de versos a miséria
E as quadras virarão o sofrimento
O ruim do mundo deixará de ser matéria
Para se transformar em fumo num momento
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Os pobres tomarão conta das ruas
Enjeitados serão ídolos nos comícios
Oprimidas mulheres dançarão nuas
Lei geral legalizará todos os vícios
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Nunca mais haverá essa diferença
Que amarra o mundo à tradição
Cada qual será como é, e a sentença
Não mais fará no homem, submissão
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Se o poeta puder ser mandatário
O mundo abrir-se-á de tanta cor
Ninguém mais se sentirá um solitário
E toda a emoção será de amor
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O poeta tem o poder do paraíso
Poder que tem contudo um senão
Talvez implante no mundo algum juízo
Mas nunca chegará a alguma conclusão
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Francisco Gouveia, in Trás-os-Montes Trá-los cá... *
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* Sobre o Autor:

9 comentários:

Anónimo disse...

O poeta tem o poder do paraíso... :) Isso deveria bastar para governar o mundo, nem sempre são precisas conclusões. Beijo grande :)

Andre Moa disse...

"O poeta tem o poder do paraíso", claro. O poeta é o único deus criador de sonhos, com a convicção de os tornar realidade. Conclusão: o poeta é a única e verdadeira síntese entre o real sonhado e o irreal vivido.
André Moa

Anónimo disse...

Não conhecia!
É interessante! Este país de poetas tem sempre mote para cantar e muitas vezes canta o paraíso quando vive em pleno inferno!

Bjs DAD

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Permitam-me dizer que com esta publicação pretendi apenas dar a conhecer uma das facetas da poesia, ou seja, uma das formas de a ver, de a ler e sentir, bem como a esse estado de alma que é ser poeta. Todos nós temos um pouco de poeta (poetiza, para as meninas), onde sonhamos, enleados, por valores sempre mais altos do que a realidade que nos rodeia.

No entanto, se é verdade, ou não, que o poeta não consegue concluir, concretizar… , aí estou em completo desacordo.

Obrigado a todos pelos comentários, e em especial aos poetas intervenientes…

augustoM disse...

O poeta pode não poder mudar o mundo, mas ajuda a mudar as nossos ideias a respeito dele, querer um mundo melhor.
Um abraço. Augusto

Leonor disse...

não. nunca chegará a nenhuma conclusão.depois escreveris sobre o quê? motivar-se-ia com o quê?

mas o que me intriga acerca do poeta é o seguinte: é-se poeta porque se nasce poeta? qual será o defeito ou a qualidade dos sentidos do poeta que o leva a metaforar (se é que a palavra existe) o mundo?

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Eu preferiria dizer que o poeta, como qualquer criador, tem a possibilidade de reinventar, inovar, mesmo que "metaforize" o já existente.

Se calhar dirão que nada se cria ou destroi, antes se transforma...

Mas também é certo e tido como tal que apenas o novo é realidade, pois o futuro ainda não existe e o passado já o era... e está já mudado...

Filosofias...

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Olá Danies. Sê bem vindo. Com efeito, a ver vamos se, ao suceder tal, teremos um poeta que consegue chegar a alguma conclusão.

Relativamente aos aldrabões... são tantos e variados nas suas roupagens e postos, que é muito complicado extraí-los sem se machucar o país. Infelizmente...

Anónimo disse...

Muito bom. Realmente, por vezes, ao correr da pena, tudo se transforma. O poeta muda de facto o mundo e leva-nos a um outro ponto inimaginável.
Com um abraço.
Willoughby

BEIJÓS-CINCO ALDEIAS