domingo, 29 de maio de 2005

Pintura... a mais contraditória das artes

Maria Helena Vieira da Silva, O Desastre, óleo sobre tela, 1942

"A pintura é a mais contraditória entre as artes. Ela é-nos dada sob a forma de contemplação sensorial. Uma vez que a percepção penetra directamente no consciente, os quadros criam uma impressão de imediatez. Temos uma sensação como se nenhuma linguagem simbólica se interpusesse entre nós e aquilo que vemos".
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Dietrich Schwanitz

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Longa - Um refúgio com muitas histórias...


Longa

Uma terra antiga plena de história e envolta pela natureza


Longa - Vista aérea
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A freguesia de Longa, uma das dezassete que compõem o concelho de Tabuaço, no distrito de Viseu, encontra-se situada a meio de uma encosta, onde se terá desenvolvido desde a Alta Idade Média, tendo feito parte do Couto de Leomil nos alvores da nacionalidade.

No entanto, é mais fácil identificar a sua vetustez através dos inúmeros sítios arqueológicos existentes, que remontam a períodos mais recuados, do que através da documentação que chegou aos nossos dias referente ao período medieval.

O próprio topónimo de Longa, segundo Almeida Fernandes, remete-nos para a arqueologia, tendo aquele autor chegado a supô-lo como topónimo de origem latina, que se poderia referir a sepultura e relacionar possivelmente com a edificação primitus da igreja ou, apesar do singular do étimo, com uma necrópole composta por prováveis sepulturas rupestres, há muito desaparecidas.

Certo é que o povoamento da área correspondente à freguesia de Longa é antiquíssimo, existindo inúmeros sítios arqueológicos que provam a sua ancianidade, desde o Povoado do Graíl, recentemente descoberto e datado do período do Calcolítico, ou a Anta situada junto ao Cruzeiro do Alto da Quinta, passando pela bem conhecida Citânia de Longa (também denominada de Castelo de Longa ou Castelo dos Mouros no séc. XVIII), classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1992, situada no cume do monte do Muro e que datará da Idade do Bronze, e pelo Povoado da Encosta do Muro, ao que parece, do período do Bronze Final e Idade do Ferro, entre muitos outros sítios, como o Menir da Chã, recentemente descoberto e a aguardar estudo e classificação (a provar-se ser um menir, será o 2.º maior de Portugal e da Península Ibérica e o maior do Norte de Portugal).

Citânia de Longa

A fundação da Igreja de São Pelágio de Longa poderá ter ocorrido no séc. X, em homenagem ao menino mártir S. Pelágio (martirizado em Córdova). Porém, pelo facto de se encontrar em terras do Ermamento, deverá ter sofrido todas as vicissitudes das guerras entre Cristãos e Mouros até que, finalmente, em finais do séc. XI teve a sua situação estabilizada e, provavelmente, restabelecida a sua paróquia.

Do ano de 1268 chegou-nos a alusão à apresentação in solidum na vigararia de Longa do Pe. Lourenço Martins pelos Cónegos do Cabido da Sé Lamecense, monges de São Pedro das Águias, herdeiros e padroeiros, tendo aquele sido posteriormente instituído e confirmado pelo bispo de Lamego D. Pedro Anes.

Capela de Santo Isidoro

Já com o arrolamento paroquial do reino, de 1321, no reinado de D. Dinis, a paróquia de São Paio de Longa terá sido taxada em 30 libras.

Segundo alguns autores, Longa terá tido foral outorgado em 15 de Fevereiro de 1514 por D. Manuel I, o que poderia ser, em princípio, corroborado pela própria grafia do registo oficial, apesar de nesse documento, nas partes referentes à Pena d’Arma, e outros itens, se remeter para o extensíssimo Foral de Lousã em detrimento do Foral de Lamego. No entanto, tal foral referir-se-á, verdadeiramente, à vila de Loriga, actualmente no concelho de Seia.

Solar dos Ferreira Cardoso

No Censual da Sé de Lamego, da 1.ª metade do séc. XVI, Longa aparece referida como Abadia, sendo o seu abade da apresentação do Cabido da Sé de Lamego em alternativa com os monges do Mosteiro de São Pedro das Águias, seguida de confirmação do Senhor Bispo. Mais se refere que a Visitação era paga através do antigo costume do Jantar.

Em 1527, o Cadastro do Reino alude ao concelho de Longa, então constituído por 50 fogos habitacionais.

Posteriormente, no ano de 1708, o Pe. Carvalho da Costa, na sua Corografia Portugueza, escreveu que a vila de Longa, pertencente à Coroa, era então composta por 90 fogos habitacionais, sendo o seu governo civil, judicial e militar exercido por um Juiz Ordinário, dois Vereadores e um Procurador do Concelho, que compunham o seu Senado, existindo, ainda, um Escrivão da Câmara, um Meirinho e uma Companhia de Ordenança (com respectivo Capitão). Mais referiu que a igreja paroquial, com a invocação de São Pelágio, possuía a categoria de Abadia de colação ordinária, apresentada alternativamente pelo Cabido da Sé de Lamego e pelos Frades Bernardos [de São Pedro das Águias].



Igreja Matriz de Longa

Devido às querelas em torno do seu padroado, por força da alternativa da sua apresentação, desde o séc. XV e até meados do Séc. XVIII, muitos processos judiciais terão tido lugar entre o Cabido da Sé de Lamego e os religiosos do Mosteiro de São Pedro das Águias da Ordem de Cister, apenas estabilizando nas décadas de 1740/1750, a favor dos Cónegos de Lamego.

Alguns desses dados foram corroborados pelo Abade de Longa, Pe. Manuel da Guerra Torres, nas respectivas Memórias Paroquiais de 1758, tendo aquele referido, a título de curiosidade, o Castelo de Longa, numa época em que a sociedade começava a despertar para a arqueologia e história das nações.

Casa do Abade

O concelho de Longa foi extinto em 6 de Novembro de 1836, passando a freguesia para o concelho de S. Cosmado, extinto por sua vez a 24 de Outubro de 1855, data em que foi anexada ao concelho de Tabuaço.

Tal como as restantes freguesias do concelho de Tabuaço, Longa possui uma grande riqueza ambiental, paisagística, histórica e cultural para gáudio dos seus visitantes.

Troço de calçada romana
No que concerne à arqueologia e como não poderia deixar de ser, há a referir a Citânia de Longa, o Povoado Calcolítico do Grail, o Povoado da Encosta do Muro e a Mesinha do Redoiro, os vestígios de estruturas alti-medievas do Monte Rei, os diversos troços de vias romanas/medievais que ligam a povoação à Citânia, à Granja do Tedo, a Arcos e a Nagosa, um Lagar medieval no Talefre, a Anta (ou Dólmen) do Alto da Quinta, diversas fossetes nos lugares da Lapinha e de Santo Isidoro, algumas Sistas no lugar do Castelo, um fragmento de sarcófago medieval que terá sido aproveitado na edificação de uma casa no Largo do Eirô, e o Menir da Chã, recentemente descoberto.

Menir da Chã

Relembrando o antigo concelho é possível referir o Pelourinho de Longa, reconstruído recentemente, no Largo da Praça, para se juntar à primitiva Cadeia e à antiga Casa da Câmara, bem como ao antigo Tribunal e Cadeia nova de Longa, sito no Largo do Eirô, cujo edifício desempenha actualmente a função de sede da Junta de Freguesia.

Interior da Igreja Matriz

Relativamente ao património religioso o destaque vai para a Igreja Matriz de Longa, templo de origem medieval cuja decoração e arquitectura actual nos remete para os estilos Maneirista, Barroco Joanino e Neoclássico. No seu interior, demonstrativo do excelente efeito cenográfico provocado pela conjugação de elementos maneiristas, barrocos e rocailles, que tornam este templo significativamente importante como exemplo de estudo da evolução do barroco regional, destacam-se as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido com 109 caixotões pintados com motivos hagiológicos e cenas da vida da Virgem e de Cristo, complementados por um precioso conjunto de talha joanina dourada e policroma, composto pelo altar-mor, pelos altares colaterais e laterais e pela talha que cobre o arco cruzeiro.

Senhora da Saúde

Existe ainda um Santuário dedicado a Nossa Senhora da Saúde, cuja capela foi inaugurada em 1930, a Capelinha da Senhora da Guia, um pouco mais antiga mas reconstruída na mesma época, não longe do lugar original, a Capela de São Miguel, da 2.ª metade do séc. XVIII, a Capela de Santo Isidoro, do séc. XVII, a Capela de São Sebastião, dos sécs. XVIII e XIX, e a Capela de Santo António, com elementos de finais do séc. XVI, além do Calvário, já sem a sua cruz, e o Cruzeiro do Alto da Quinta.

Cruzeiro do Alto da Quinta

Capela de São Miguel

No que concerne à arquitectura civil residencial será de referir, entre outros inúmeros imóveis construídos ao longo dos séculos, a Casa do Abade, com janela manuelina, o Solar dos Ferreira Cardoso, seiscentista e setecentista, ou a romântica Casa dos Leões e o Palacete da Rua de São Miguel, ambos do séc. XIX.

Pelourinho de Longa

A arquitectura civil de equipamento aparece representada através das Fontes da Rigueira, do Cimo de Vila, das Alminhas e do Fontanário da Praça, que ostenta a seu lado uma lápide com uma quadra em latim datada de 1835. Como marco comemorativo é possível referir o Cruzeiro dos Centenários de Longa, novecentista.

Longa, uma terra antiga com um passado histórico interessante onde o visitante se poderá demorar por muitas horas, calcorreando caminhos antigos, descobrindo cascatas e ribeiros, penedos esculpidos pelo vento e pela água, podendo observar uma águia a sobrevoar um monte, um javali ou uma raposa vindos de nenhures, bem como outros inúmeros pormenores notáveis da natureza envoltos pela ancienidade de um povo bem português.

domingo, 22 de maio de 2005

Poesia

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Sentir um olhar
Evitar o nosso olhar
Tens aí: a certeza de um sentimento maior.
Sentimento maior que misteriosamente tem medo...
Medo da sua grandeza.
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Maria do Céu Costa, in Sentimentos no Silêncio
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Mas, afinal de contas, o que é a poesia? Será o retrato fiel do nosso amor, dos nossos sentimentos? Ou será, antes, uma simples viagem, uma viagem ao ponto de fuga, parafraseando Fernando Campos?
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* Mais sobre a autora:

terça-feira, 17 de maio de 2005

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Aida Baptista - Passaporte Inconformado


Passaporte Inconformado de Aida Baptista *

Uma Escritora nascida em Pinheiros - Tabuaço

Maria Aida Costa Baptista nasceu em 1948 na freguesia de Pinheiros, concelho de Tabuaço, distrito de Viseu. Com a provecta idade de um ano foi com seus pais para Angola, onde viveu na cidade de Benguela, até aos 26 anos de idade. Aí estudou, casou, teve dois filhos e iniciou a sua actividade docente.

Com o 25 de Abril regressou com a família a Portugal, onde fez a Licenciatura em História e uma Pós-graduação em Estudos Europeus na Universidade de Coimbra. O Mestrado em Literatura e Cultura Portuguesas seria feito posteriormente na Universidade Nova de Lisboa.

Sendo já professora efectiva do 1.º Grupo da Escola EB 2,3/S do Sardoal, candidatou-se em 1989 a Leitora de Português no estrangeiro, acabando por ser colocada na Universidade de Helsínquia, Finlândia, onde cumpriu uma missão de 8 anos.

Em 1998 foi nomeada pelo Instituto Camões para uma segunda missão na Universidade de Toronto, Canadá.

Em 2003, depois de terminada a missão no continente americano, decide reunir em livro algumas das suas experiências pessoais e profissionais, tendo resultado esta sua primeira publicação, Passaporte Inconformado, cuja 1.ª edição foi publicada em Junho de 2004 pelas Edições MinervaCoimbra, com o patrocínio da Sanofi-synthelabo e o apoio da Câmara Municipal do Sardoal, da Direcção Regional das Comunidades – Presidência do Governo dos Açores, do BCP Bank e da CIRV – Rádio Internacional – Toronto.

Passaporte inconformado trata-se de um conjunto de cinquenta crónicas aleatoriamente escolhidas pela autora de entre muitas das publicadas em diversos órgãos de imprensa com os quais tem vindo a colaborar. Nas palavras da autora, através desta obra, e apesar de, por vezes, partir de referências autobiográficas, apenas pretende dar voz a todos aqueles que passaram pelas vivências ligadas ao "abandono do espaço-berço", a Emigração.

Trata-se, pois, de uma aventura que tanto pode ser descrita em histórias de sucesso, como remeter o leitor para o esquecimento relativamente àqueles que se "envergonham de não ter conseguido subir os degraus que conduzem ao miradouro do êxito".

Ainda de acordo com as suas palavras, resta-lhe “a certeza de que, tanto num caso como no outro, todos se sentem unidos pelo mesmo documento, um passaporte inconformado, feito de tantas páginas quantas as entradas e saídas carimbadas pelo lacre que escorre do tempo”.

Aqui fica a referência a mais um nome promissor do panorama literário nacional, Aida Baptista, natural de Pinheiros – Tabuaço, cujo fulgor vai pululando e dando a conhecer, com qualidade, humildade e forte sentido a sua/nossa Portugalidade, numa obra entretecida por vivências profissionais e pessoais da autora e que nos levam à meditação acerca do percurso de vida de cada português, tanto aqui como acolá, na aventura da diáspora.


Gustavo Monteiro de Almeida
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* O presente artigo será publicado na próxima edição, de 15 de Maio de 2005, do quinzenário Correio de Tabuaço.

** Mais informações sobre a autora em: http://manuelcarvalho.8m.com/aidaentrev.html


terça-feira, 10 de maio de 2005

O poder do poeta


O poder do poeta
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Dêem um mundo perdido
A um poeta que sobre ele possa mandar
E de um dia para o outro, o mundo esquecido
Será jardim, lago de calma, de encantar
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O poeta cobrirá de versos a miséria
E as quadras virarão o sofrimento
O ruim do mundo deixará de ser matéria
Para se transformar em fumo num momento
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Os pobres tomarão conta das ruas
Enjeitados serão ídolos nos comícios
Oprimidas mulheres dançarão nuas
Lei geral legalizará todos os vícios
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Nunca mais haverá essa diferença
Que amarra o mundo à tradição
Cada qual será como é, e a sentença
Não mais fará no homem, submissão
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Se o poeta puder ser mandatário
O mundo abrir-se-á de tanta cor
Ninguém mais se sentirá um solitário
E toda a emoção será de amor
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O poeta tem o poder do paraíso
Poder que tem contudo um senão
Talvez implante no mundo algum juízo
Mas nunca chegará a alguma conclusão
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Francisco Gouveia, in Trás-os-Montes Trá-los cá... *
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* Sobre o Autor:

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Bom humor


"O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior"

Alfred Armand Montapert

sábado, 7 de maio de 2005

Impossível?


"Se tens dificuldade em cumprir um intento, não penses logo que seja impossível para o homem; pensa quanto é possível e natural para ele, e que também pode ser alcançado por ti"

Marco Aurélio

terça-feira, 3 de maio de 2005

Em catadupa...


Pois é...

Em catadupa
Vivemos acontecimentos,
Fervilhamos de ideias
Até à exaustão,
Quase extenuados com tudo
E todos...

Durante o dia…
Lembramo-nos de que é preciso fazer isto, pensar aquilo,
E, também, não esquecer daquilo...

Oh Deus!
E, ainda, telefonar a fulano,
Beltrano e sicrano...

Já agora, estar com o amigo w,
Reconfortar a amiga x,
felicitar a amiga y,
E, claro, não esquecer o familiar z.

Por fim, como uma formiga,
Recolher ao lar, depois do dever cumprido.
Ouvir música, tomar um repasto,
Sair para beber um café e ler um trecho…

Depois…
Ora, depois, como não poderia deixar de ser,
Escrever..., sim! Escrever, pois esta alma necessita de criar,
Ouvindo um pouco de música em jeito de tango,
Pois combina bem com a scripta.

Muito depois (ou pouco, conforme os dias),
Lançar-me para de debaixo dos lençóis,
Afagar a gata que se aninha aos pés,
Sentir-lhe o inefável ronronar de saudade.
Ler mais uma passagem como enleio,
Para os voos que se aproximam...

Fechar os olhos,
Relembrar momentos de carinho,
Tentando esquecer a raiva que, por vezes,
Outros nos tentam incutir,
E que durante o dia nos levam quase ao desespero.

Suavemente embriagar de sono,
Lentamente, lentamente… embalado até adormecer,
E entrar em sonhos saudosos do passado, do presente,
E do futuro…

domingo, 1 de maio de 2005

Mater


Maternidade, Gustav Klimt
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Por ti aqui estou, pleno de vida, tentando ultrapassar-me todos os dias, em reinvenção de sonhos e de angústias, encontros e desencontros.
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Nunca te esquecerei, nem nunca esquecerei as palavras de conforto que sempre me deste, as lições de vida que sempre tentaste imprimir na minha alma, os momentos dolorosos que me ensinaste a viver.
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A saudade é sempre muita, mas, basta-me relembrar o teu rosto e a tua voz, o teu sorriso, para me sentir melhor e continuar a lutar e a sonhar.
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Teu filho, sangue do teu sangue, humilde representante da tua linhagem, sempre...